Milonga Da Desesperança
Composição: Dari Sortica.MILONGA DA DESESPERANÇA
Mateando em silêncio, cansado e moído
Eleva o desejo em forma de prece
Muito gostaria que o mundo lhe desse
Um pouco de paz ao seu corpo sofrido
Chorando em silêncio sem muito alarido
Relembra o dia em que saiu do pago
Levava consigo um desejo vago
De enriquecer nesse mundo egoísta
Que explora as pessoas a perder de vista
E arranca o sangue fazendo afago!
Que tempos são esses que a humanidade
Virou os arreios, quebrou o balancim
Pôs fora a esperança e deseja o fim
Da vida em comum, da comunidade
De todo respeito e fraternidade
Se põe contra a vida em favor do cinismo
E a carroça segue chegando ao abismo
O que é a carroça? Pergunto, patrício
É o planeta terra que em sacrifício
Foi adoecido por tanto egoísmo
Enquanto sonhava em sair dali
Em passo apressado a querência se ia
E algum debochado por dentro se ria
Da ingenuidade do pobre guri
Que pensa que o mundo anda em volta de si
Que tudo conspira em favor do sucesso
Doando seu sangue pra Ordem e Progresso
Negou as origens, desfez do passado
E hoje saudoso do pago arrasado
Desenraizado, faz medo, confesso!
O que era simples ficou complicado
Ficou impossível pro humilde moço
A água que antes tirava do poço
Tem valor de ouro no supermercado
E tudo o que come tem de ser comprado
Olha para trás e se sente iludido
No mundo largado, é um cão perdido
O progresso chegou, mas não sabe pra quem
Todo o seu saber já não vale um vintém
Na desesperança encontra abrigo.