Tropeiro solitário
Composição: Ory Souza.Tropeando pela vida, sem tempo pra descansar
Quando a fome apertava eu tinha que me virar
Escolhia um boi gordo, começava paletear
Corria a faca na artéria, ouvia o bicho berrar
Conferia a sangria, olhava o sangue escorrendo
Antes de correr cem metros o bicho estava tremendo
Logo deitava no chão sem ter mais o que fazer
E a peonada chegando, preparando pra comer
Cortava uma vara verde, um já ia "farquejando"
Um apontava o espeto e o outro ia espetando
Escolhia a melhor carne, as outras ia cortando
Mas nada desperdiçava, um outro ia charqueando
Fazia um fogo bem grande e logo criava brasa
Espetava aquela carne como se estivesse em casa
Assava carne no espeto fincando a ponta no chão
Bico quente da chaleira já saía um chimarrão
O cozinheiro era bueno, terminava a carneação
A boiada descansava, folgava cavalo e peão
Na ronda durante a noite era grande a cantoria
Botava a tropa na estrada antes de clarear o dia
Pelas tropeadas da vida atravessei muito sertão
Foi por aí que perdi meu avô, meu pai e irmão
Fiquei sozinho no mundo, sem boiada e sem peão
Hoje só abro o meu peito pra espantar a solidão