A Família

A Família

Cidade/EstadoHortolândia / SP
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Sem motivos pra Sorrir

Composição: Demis Preto Realista.
A minha adolescência eu passei distante dos meus pais Tem muito mais na vida eu nunca tive pais Na minha família o quebra-quebra e o desamor Meu pai varias vezes bêbado, me espancou Me humilhava na frente dos amigos da escola Não deixava eu sair pra jogar bola Minha mãe doente Com crise depressiva Hematomas foi o que restou da briga No corpo de delito, consto Foi espancamento e meu pai o agressor Me lembro como se fosse agora o desespero Até me arrepia, lembrar o pesadelo Eu só tava pele e osso e minha um cativeiro E meu pai embriagado no puteiro Meio dia nem um prato de comida Minha mãe chorava e clamava pela vida Mamãe saiu de casa um dia cheia de razão Meteu o ferro, e enquadrou o busão O cobrador reagiu sem ter noção E ela disparou, dois tiros de oitão Na carne a navalha, no destino uma surpresa Denis a tia veio avisar que a sua mãe tá presa Na sequência ela tentou aliviar minha tristeza A tia trouxe um chocolate pra você, vou deixar aqui em cima da mesa tá! Cadê meu pai, meu herói, meu guerreiro Minha consciência delata o paradeiro Deve tá lá, sendo zoado, caído no chão, bêbado, sujo e sem dinheiro Mano eu só tinha onze anos de idade Meu herói sumiu, sem dignidade Jogou na lama a honra e a simplicidade Pra mim o que restou, foi o mundão e suas vaidades Já pensou mano, vê sua mãe chorá Porque não teve, chances de amar Se juntou com um canalha Engravidou estou aqui Sem motivos pra sorrir O que me importa seu carinho agora Se para mim a vida terminou? O que me importa seu carinho agora Se para mim a vida terminou? Eu me lembro que os parentes foram os primeiros que se afastaram de mim Mais ai, eu vou até o fim Me negaram um prato de comida que desgosto Me fizeram beber água do esgoto Muitos me chamavam de escroto Diziam que a qualquer momento eu estaria morto Detonado na maldade pelos porcos Ou internado em um hospital de louco É triste, só quem sofre, sabe o que é sofrer Chegou uma hora que eu queria até morrer Mais não, vida real manchada de sangue Necessidades ambição Bang Bang Só quem é sabe como é Sobreviver na luta e na fé Diagnostico da Paz pra mim não funcionava Olhando as vitrines eu imagina Já penso eu nesses pano louco mó estilo Aos 11 anos já queria tudo aquilo Uma calça, uma peita, um tênis mil grau E uma luva preta e um boné estilo mau Abaixo da linha de pobreza irmão, é o fim do mundo Meu sonho não durou nem um segundo Olhei de lado o McDonald's lotado Os boy sorrindo E eu aqui calado Mamãe foi condenada vários anos de penita Demorou mais me mandou um pipa Eu chorava em cada frase que eu lia Eu era simplesmente refém da agonia Perdi o contato assim que fiz meus doze anos Jogado no mundão, só bandidagem vários manos Nessa fase irmão Perdi a noção do tempo Mó saudade da minha mãe, quanto tempo Meu pai fiquei sabendo pede esmola lá no céu Descabelou, eu lamento Já penso mano Ver sua mãe chorar Porque não teve chances de amar Se juntou com um canalha, engravidou estou aqui Sem motivos pra sorrir O que me importa seu carinho agora Se para mim a vida terminou? O que me importa seu carinho agora Se para mim a vida terminou? Eu tinha um sonho Eu queria estudar Ter conhecimento Talvez me formar Mais a sociedade me esqueceu nesse lugar Se eu contar a real pra você mano Se nem vai acreditar Na historia da sociedade Em um retrato estava eu Com uma arma de verdade, herói dos pobres ateu Uma espécie em extinção ladrão Mais não rara, sofreu e angustiou irmão Quem vos fala Gritos no silêncio Clamando pela vida Aos 27 de idade a mesma fita Meu pai morreu, fiquei sabendo é triste, nem fez diferença Mais ai quem resiste? Cadê minha mãe pra me ajudar Um gesto, um abraço Já ia me acalmar O desespero às vezes leva o homem ao suicido É o descaso é o causador do genocídio Que se prolifera nas favelas Imagem, ibope, todo mundo ligado na tela Milhões de pessoas ao mesmo tempo sendo alienadas É guerra civil e não conto de fadas Aqui no Brasil prisão sem muro, miséria O sangue ferve nas artérias É agora mano, chegou minha vez Quem sou eu? Quem é você? Quem são vocês? EU? Sou revolucionário natural por natureza Sem privilégio, sem caviar na mesa Cheio de certeza, o predador a presa, longe, longe da riqueza Vivendo no limite com frieza Lembrei de mim, com fartura na sua mesa Lembrei de mim O exemplo do abandono, cachorro louco sem dono Chegou minha hora, não se apavora Adeus Falô, to indo embora Aos 27 de idade, sem motivo pra sorrir O que eu estou fazendo aqui?

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