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A banda À HÁ A MARGEM nasceu da necessidade gritante de dialogar com uma geração que hoje está segregada, órfã e inerte: a geração pós 1980. No final dos anos 1970 começou a surgir inúmeras bandas de rock brasileiras, influenciadas pelo Movimento Punk inglês e norte americano. Embora nem todas as bandas desse movimento tivessem um viez ideológico, elas surgiram em um ambiente carregado do pós segunda guerra e guerra fria, onde ainda reinavam no subconsciente os pesadelos do nazismo e do fascismo. Frente a esse estigma, a juventude dos anos 1970 conviveu com o seguinte dilema dos pais: nazismo, fascismo, capitalismo ou comunismo? Uma parcela dessa juventude tomou a corajosa decisão de se contrapor a todas essas “alternativas”, o anarquismo!
Não é de se admirar que o Movimento Punk (não todo ele) tenha herdado a ideologia anarquista. Poetas, músicos e escritores (principalmente poetas) lançavam à época, várias obras ideologicamente anarquistas. A juventude da época lia? Sim, lia. E muito! Nesse contexto poético ideológico e lendo essas obras ao som de álbuns claramente influenciados por conceitos anárquicos como Animals e The Wall, da banda Pink Floyd (por exemplo), surge o Movimento Punk, contestando o “modus operandi” social.
Mas e a história da banda? Ok, vamos começar assim... Era uma vez, um professor de Arte que além de lecionar desenhava, pintava, tocava violão, escrevia poemas e fazia composições. Ele sofria muito com o descaso da sociedade (não só de governos) com a juventude e já não suportava mais o massacre que estava sendo feito com ela. Certo dia, numa dessas salas de aula da escola pública parou, olhou para os jovens, para si mesmo e divagou: “Estamos todos à margem...”. A partir daí tudo mudaria, e ele precisava contar essa “grande descoberta” para eles. Mas, como?! Como se comunicar com uma geração que foi propositalmente condicionada a crer que não houve uma geração anterior a eles? Uma geração que não faz a mínima idéia da importância que teve Raul Seixas, Plebe Rude, Legião Urbana, Titãs, Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós, Ira!, Inocentes, Barão Vermelho, Capital Inicial e muitos outros. Essa pergunta ficou matutando na cabeça desse professor durante um bom tempo, até que um dia... euréka! Ele descobriu a resposta! A culpa era dele. Sim, dele e de todos aqueles que tiveram o privilégio de ouvir as mensagens de todos os músicos e todas as bandas da década de 1980, mas não tiveram a coragem de pegar o bastão para continuar a corrida. Ele e todos os de sua geração preferiram a inércia, se tornando órfãos segregados e se contentando a interagirem por meio de “bom dia”, boa tarde” e “boa noite” nas redes sociais. Existe esperança?, pensou o professor. Será que ainda há margem para transformar a margem? Só dialogando para saber. Ele já tinha o conteúdo a ser dito para seus conterrâneos de geração. Agora faltava a forma...
Escrever um livro? Que tal uma HQ? Poemas, então? Foi quando ele se lembrou de que já havia começado livros, HQs, poesias, mas nunca terminou nenhuma sequer. Nenhuma! Simplesmente não consegue. Ele é coletivista e detesta a palavra ‘só’. O que faria, então? Mais uma vez ele pensou (ele gosta muito disso): “E se eu montasse uma banda? Uma banda é coletiva! Não estarei sozinho. E outra, muita gente diz pra eu cantar na noite. Além do mais, tenho composições desde meus 17 anos.” E foi o que ele fez. Ah, não posso esquecer de dizer que ele está muito feliz de ter pego o bastão pra continuar a corrida. Ele me disse: “Antes tarde, do que nunca!”