- Espelho nos olhos695 plays
- Guerra silenciosa1.725 plays
- Tem outro dia pra nascer288 plays
- Suor283 plays
- Livro antigo474 plays
- Sonho ruim1.166 plays
- Menina mulher1.037 plays
- Essa noite3.051 plays
- Pés no chao446 plays
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Release
Poucas vezes um CD de pop rock brasileiro guardou tantas histórias. O debute fonográfico
do gaúcho de 24 anos André Rass pelo selo paulistano M2 Música não é uma simples
coleção de canções assobiáveis. Trata-se da porta de entrada para o mundo de um cantor
e guitarrista com uma trajetória incomum.
Criado em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul, André tinha como principal diversão
freqüentar uma igreja protestante. Sua família, extremamente religiosa, não permitia
aparelho de tevê em casa. O universo pop de André se desenvolvia nos cultos, entre
cânticos de louvor e exibições ao violão (ele aprendeu a tocar com ajuda dos livros do
falecido Almir Chediak). Aos 13 anos, ganhou um walkman e passou a ver e ouvir a vida de
forma diferente, por meio das ondas da FM. Sucessos de Papas da Língua, O Rappa,
Charlie Brown Jr., LS Jack, Legião Urbana, Jack Johnson e Stone Temple Pilots mexiam
com a imaginação do guri.
O primeiro CD ele só ganharia dois anos depois, presente de um irmão mais velho. André
ouviu De Volta ao Planeta, segundo trabalho do Jota Quest, até furá-lo. Nessa época, parte
da família já residia em Florianópolis, Santa Catarina. André então decidiu ganhar dinheiro
tocando nos botecos da ilha, inicialmente como percussionista de uma banda ? em Santa
Maria ele havia trabalhado na oficina de eletrodomésticos do pai, vendido picolé e pão doce
na rua, lavado carros etc...
Foi durante um show ?voz e violão? num pub local no começo deste ano que o ?cataúcho?
acabou descoberto pelo empresário Maurício Alfano, que imediatamente entrou em contato
com o produtor musical Marco Camargo. A voz naturalmente rouca cativou Marco, que
trouxe o jovem talento para São Paulo com o intuito de registrá-lo um disco. O próprio
André classifica o processo como ?meteórico?. Num dia ele estava pegando onda na praia
da Joaquina. No outro, adentrava um estúdio paulistano para começar a trabalhar em sua
estréia oficial. Para acompanhá-lo na gravação foram convocados os irmãos Andria e Ivan
Busic, respectivamente baixista e baterista do longevo grupo de hard rock Dr. Sin. O ex-
Capital Inicial Bozo Barretti encarregou-se dos teclados e dos arranjos. Mesmo cercado por
tantas feras, André fez questão de executar todas as guitarras do disco. E fez bonito. O CD
ficou com um inegável verniz roqueiro, apesar da veia pop permanecer sempre exposta.
Com jeitão de hit, Espelho dos Olhos (Alexandre Hoer) abre o disco. É tipo uma carta de
intenções de André. Sua missão é cantar relacionamentos, paixões que deram certo ou
não, tratar de dilemas dos jovens adultos. Quem contribui e muito para o repertório é o
?chefão? Marco Camargo. Sua assinatura está em metade das 14 faixas do álbum ?
inclusive nos rocks ?chicletudos? Guerra Silenciosa e Só com Você (essa, escolhida para
finalizar o álbum no maior astral, em parceria com Bozo Barretti). Também de Bozo, Suor
gruda no cérebro instantaneamente. É um dos melhores riffs de guitarra do trabalho, que
apesar de centrado em pop rock, paquera o funk (Essa Noite) e o reggae (Oi, Sou Eu).
O CD é tão redondinho que fica difícil apontar destaques. Mas não dá para não citar a
dolorida Sonho Ruim, escrita por Jair Demarco, do grupo Nativos, que fala de culpa,
arrependimento e perda. Tão marcante quanto ela é Pés no Chão, balada inédita de Paulo
Ricardo. Fica nítida a semelhança entre os timbres do autor e de André. E, como se não
bastasse exibir os dotes vocais e guitarrísticos, André também aparece com uma
composição própria: a esperançosa Tem Outro Dia Pra Nascer. A curiosidade é que o
primeiro verso dela lembra o de Um Certo Alguém, de Lulu Santos. Como André se formou
em música ouvindo rádio e ganhou muito couvert tocando em barzinhos, Lulu era uma
referência que não podia faltar. Se ele seguir caminho semelhante ao do carioca, o Brasil
certamente ganhará um novo ídolo pop.