Já não é novidade para ninguém que Goiânia é um dos principais centros musicais do país. Inúmeras bandas surgiram nos últimos cinco anos na capital; o ecossistema criado se mostra cada vez mais diverso e permissivo para que artistas encontrem um público local antes de sua expansão, cada vez mais certeira, rumo aos centros do Brasil.

Dentro desse ambiente rejuvenescido, Bruna Guimarães se enquadra como um observadora de música estrangeira que a tomou sob modos brasileiros. Brvnks, seu projeto pessoal e autossuficiente é o anseio de se mostrar uma voz enquanto tantas são ouvidas. No entanto, basta uma primeira audição em “Lanches”, seu primeiro EP, para que haja o entendimento de que se está diante de uma amostra diferente do som esperado atualmente na capital. Guitarras ensolaradas com vestígios da retomada da Surf Music de nomes como Best Coaste Alvvayssurgem na abertura “Freedom is just a name (For What I Want You To Be)”. A faixa é um convite irresistível à dança com seu refrão viciante e confunde facilmente o ouvinte: estamos ouvindo uma artista brasileira ou estrangeira? Talvez essa questão apareça por conta do sotaque impecável do inglês cantada por Bruna, surpreendentemente aprendido por conta própria, ou pelas foco em melodias que soam tão frescas e grudentas e que são acompanhadas de linhas de guitarra muito bem produzidas. Todas essas qualidades se encontram em “Harry”grande momento do EP que pede uma viagem de carro ou um passeio de skate pelas redondezas da sua cidade. “Bunch of Fries”poderia facilmente sair de algum disco de nomes como Courtney Barnettou Bully; realça a potência e alcance da feminilidade da produtora através de uma voz macia. “Don’t”, única balada e instante mais melancólico do trabalho, é o tipo de música para se apaixonar inesperadamente e não largar mais, sendo o alívio necessário dentro de um som tão vertical.

Lanches é apenas o primeiro tira gosto de uma compositora de mão cheia. Composto e feito inteiramente por Bruna dos arranjos de guitarra as linhas suaves de teclado é a prova viva do poder de sua independência e capacidade. Sem aulas e professores, Brvnksaprendeu na vida a escolher o que gostaria de criar, sendo sua estreia a síntese de um processo em evolução e sem forma definitiva. Por caminhar na contramão das sonoridades de Goiânia e fazê-la de forma tão precisa e Pop, podemos ter certeza de que novos sabores serão extraídos de sua frutífera e futura discografia. Produzido por Edimar Filho, o EP é mais um ótimo lançamento da Dull Dog Records que aos poucos vem criando seuespaço no cenário independente no Brasil