Espelho
Composição: Carlos Madia/ Míriam Cris Carlos.Estar como coisa entranhada
Na imagem recomposta
Pela alma estilhaçada
Olhos baços
Beiços rotos
Gastos
Pêlos idos pelo tempo
Entradas como estradas
Vazios de respostas
Vagas
Estar como coisa emaranhada
Envesgar
Não crer
Não ter amor a nada
Traços tortos
Róseas e as gengivas nuas
Parda a pele em preto e branco
Produzidas as pressas
Ajeitada
Rejeitada e dura
Crua a imagem do espelho
Mais real que o estar inteiro
Em frente
Ao lado
Alheio ao próprio rosto fosco
Exposto
Retalhado
No espelho
Ferve a verve
Fora
A realidade espera
Quase estampa
Desejo triste
Tontestando o mudo acaso
Escancarando a fome
De ser mais carne
E menos alma
Vela o vegetal no espelho
Um riso plantado
De gengivas postas
Em dano e mácula
Brotar no espelho
Galhos estéreis de folha
Produzidos num quebranto
Dramatizar os gestos
Erguer as sobrancelhas
Ensaiar a língua
Diminuir as orelhas
Estar quebrado em mau-agouro
E inteiro
No espelho
Estar como coisa enrustida
Que encontra enfim o poço
Libertar anjos
Demônios
No raro riso reflexo
Um olhar que aprova
E no espelho
Estar inteiro