- CENTRO35 plays
- FEBRE DO RATO77 plays
- OVERDRIVE26 plays
- CAMPO MINADO33 plays
- VENTO22 plays
- URUBU88 plays
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Release
Geralmente o bom Rock’n’Roll começa assim. Da cabeça de dois caras. É difícil precisar porque fica mais difícil com um cara só, ou com três ou mais. Mas é só parar pra pensar. Lennon e McCartney, Richards & Jagger, Page & Plant e mais uma porrada de duplas de almas gêmeas como estas formaram algumas das maiores bandas de Rock que existiram. E certamente outras, nem tão famosas, também surgiram assim. Felizmente o Carne Viva faz parte dessa raça ...
Dois quase parentes (ou “brimos” como se diz por aí) da comunidade armênia de Osasco, Adriano Gudjenian (Turcão), guitarrista, e José Agop Manuchaguian, vocalista, já maduros e com alguma estrada no circuito das bandas cover da Grande São Paulo, resolveram que deveriam trabalhar em um material próprio que pudesse expressar de fato o que eles pensavam em termos de ideologia musical. Em um pequeno espaço anexo ao consultório do dentista recém formado Dr. Adriano Gudjenian, em meados de 1995, Turcão é Zé Agop começaram a trabalhar em riffs e refrões que seriam o embrião do material futuro do Carne Viva. Em pouco tempo, a eles se juntou o excelente guitarrista Rodrigo Manuchaguian (Masmorra), irmão de Zé Agop, que entendendo a proposta mais incisiva do projeto topou assumir o baixo e trouxe para a banda a incomparável habilidade de composição dos consistentes backing vocals, em parceria com o seu irmão de sangue. Após algumas trocas de baterista, o velho amigo e experiente musico Jader Abs começou a ensaiar com o trio e a partir deste núcleo inicial consolidado as primeiras composições da banda começaram a tomar forma. Riffs de guitarra pesados, simples e diretos, ladeados por uma cozinha firme e bem elaborada com vocais competentes e letras bem humoradas sobre temas do cotidiano urbano, e por vezes com algum viés intimista, foram a marca desta fase de construção de repertório. Desta época ficaram algumas gravações caseiras e um único show, realizado em um estacionamento na Rua João Colino, no centro de Osasco, endereço vizinho àquele que ainda hoje a banda utiliza como o seu QG.
Infelizmente a partir deste show surgiram algumas divergências que, somadas ao momento de vida e às distintas prioridades dos integrantes, fizeram com que a banda parasse as suas atividades pelos três anos seguintes. Reuniram-se uma vez mais na virada do milênio, agora contando com a colaboração do versátil baterista Ricardo Ventz, com a intenção de retomar as velhas composições para, enfim, registrá-las em estúdio. A gravação das faixas Mundo Hostil, Azeitonada na Testa, A Era dos Ventos, Campo Minado, Overdrive, Centro, A Febre do Rato, Outono e Kill me and Get Away marcam este período, quando a banda peregrinou por alguns estúdios entre São Paulo e Minas Gerais, sob a batuta do renomado produtor musical Bill Reinikova (Skank, Jota Quest) para o tão desejado registro de seu material. A partir de um acordo fechado com a banda, Bill adequou a sua agenda para trabalhar no material do Carne Viva em sessões esporádicas, ocasionando uma demora de pelo menos um ano até que chegassem à conclusão do trabalho. Uma primeira audição das músicas pode causar certa estranheza, talvez por questões técnicas relacionadas á masterização e conversão dos arquivos de audio provenientes de diferentes estúdios, ou ainda por um certo exagero da banda e do produtor em se arriscar no uso experimental de efeitos e overdubs. Mas a verdade é que a essência do Carne Viva está lá. E é certo que um contato mais duradouro com o material fará com que o seu ouvinte se veja inadvertidamente cantarolando os seus refrões ou balançando discretamente a sua cabeça ao lembrar de algumas de suas densas melodias. De posse do registro a ideia dos integrantes era começar a divulgá-lo, para cair na estrada, fazendo Rock’n'Roll puro e simples no circuito underground das bandas independentes de São Paulo. As coisas não foram como o planejado e neste período a banda sofreu o seu maior golpe . Após sete anos de luta contra um câncer, o baixista Masmorra finalmente descansou. Os relatos de seu irmão e de diversos de seus amigos o descrevem como uma daquelas pessoas que passam por este mundo essencialmente para fazer o bem ao próximo. Como um anjo. Que esteja em paz e olhando pelo Carne Viva de onde estiver. Sua música vive. O irônico é que muitas das grandes bandas de Rock passaram por momentos trágicos em suas carreiras, com a perda precoce de importantes membros em suas trajetórias. Infelizmente o Carne Viva também faz parte dessa raça ....
Sentindo-se impossibilitados em seguir adiante com o projeto, Turcão e Zé Agop passaram a dedicar-se exclusivamente à sua bem sucedida banda de covers, o Autopsia Rock, com um irretocável histórico de grande diversão e shows memoráveis no circuito do Bixiga ao longo da primeira década do novo século. Em 2010, com ambos na casa dos 40, já casados, com carreiras profissionais bem sucedidas e, no caso de Zé Agop, um casal de filhos, eles começaram a sentir desconfortáveis e desmotivados com a perspectiva de seguir tocando o mesmo repertorio de rock clássico que vinham fazendo há anos e decidiram dissolver o Autópsia, ainda sem um plano traçado para o futuro naquele momento. Mas a Febre do Rato continuava a corroer as sua mentes. Em menos de um ano, o reencontro de Turcão com um antigo colega de faculdade, Ander Bernal (Boca), pôs o fogo na bomba. Contrabalançando as sua pouca experiência como guitarrista com uma vontade inigualável para fazer as coisas acontecerem, Ander encheu de energia a dupla seminal do Carne Viva para a retomada do projeto, incansavelmente trabalhando para alavancar a banda em termos de infraestrutura e divulgação. Em poucos meses juntou-se a eles o baterista Zé Roberto (Zero) colega de trabalho de uma cunhada de Zé Agop, que há anos contentava-se em marretear solitariamente a seu instrumento no porão de casa. Apesar das dificuldades inicias pela pouca experiência com bandas e falta de ritmo de ensaios, Zero superou as suas limitações técnicas trabalhando com afinco e escutando atentamente os conselhos dos outros integrantes para se transformar no baterista com o instinto animal que Turcão e Zé Agop sempre quiseram para o som do Carne Viva. Faltava um baixista, que veio de um encontro fortuito na sala de espera do Aeroporto de Congonhas do guitarrista Boca com outro ex-colega de faculdade, Flávio Alonso. Excelente músico, mas com pouca vivência no universo do rock mais sujo e barulhento, Flávio topou o desafio e trouxe o equilíbrio que faltava para o Carne Viva, trabalhando em um balanço perfeito entre marcação e virtuose e colocando a cereja no bolo do atual som da banda, sempre extasiante para os que têm a oportunidade de frequentar os seus ensaios ou presenciar as suas apresentações ao vivo.
Em geral bandas de rock são formadas por jovens que obviamente sonham com fama e sucesso. O problema é que muitas boas bandas se perdem em devaneios e jogam os seus projetos no lixo acreditando que suas vidas são tão curtas quanto a sua juventude. O Carne Viva é uma banda de quarentões apaixonados pelo que fazem, e que mal podem esperar que cada noite de terça-feira chegue para que eles possam comungar através da sua música. E o fazem sem compromisso. Com nada e com ninguém. Tosqueira. Rock pauleira. E simplesmente porque eles tem todo o tempo do mundo. É ver (e ouvir) pra crer. Cuidado onde pisa!