Mulato Véio
Composição: Luddi Ursulini.Com seu jeito humilde e sincero
Homem manso fácil de lidar
Quando se ouvia o quero-quero
Entoando seu canto sem cessar
Lá no alto da coxilha
Era ele descendo pra lida
E também pra prosear
Andou pela cidade
Mas por lá não se aquerenciou
Gostava mesmo de verdade
Era da paz do interior
Estava feliz formava uma família
Sua esposa esperava uma filha
Mas ao dar a luz o patrão velho a chamou
Se bandeou de volta ao pago
Sozinho desiludido com a vida
Buscou consolo no trago
Pra tentar curar a ferida
Trabalhando de peão, dia com um dia com outro
As vezes lhe chamavam de louco
Por não conhecer sua sina
Escória suor de seu rosto
No alambique cortando cana no eito
Isso ele fazia com muito gosto
Debaixo de sol forte fumando seu palheiro
Sabia que ajudava a fazer
A cachaça que ele mesmo ia beber
Pra aliviar a mágoa do peito
Aquele homem mulato, por nome Assis Machado
Sim, não é Machado de Assis
Por isso não será reverenciado
Por que existem dois brasis
Na sociedade em que vivemos pobre não tem valor
Se não for letrado ainda mais homem de cor
Mais seu destino não foi ele quem quis
Certo dia a noitinha voltando pro rancho depois da lida
A pesito cansado estrada a fora
Um caminhão desses apressados lhe ceifou a vida
Sem lhe prestar socorro se foi embora
Deixando ali seu corpo estendido
Aquele homem mulato e tão sofrido
Saiu da vida mais não entrou pra história
Assim o mulato Véio se foi embora pra o céu
Que sua alma por lá tenha conforto
Que o pai velho não lhe deixe vagando ao léu
Esse humilde homem caboclo
Que deixa pra nós como ensinamento
Temos que viver a cada momento
Sempre valorizando uns aos outros.
(Homenagem a Assis Machado, falecido em 9 de maio de 2023, vítima de um atropelamento brutal no km9 da ERS403, interior de Rio Pardo RS)