Penúltimo Ato
Composição: Danilo Freitas Souza.Ao cair por um tropeço
À depressão dei endereço
Desabei-me sob um hospício
Fiz do fim um grande apreço
Dispensei um recomeço
Só dei valor ao que tem preço
Que mereço, eu confesso
Essa dança reconheço
Não descanso, nem almoço
Tão somente me desfaço
Traço em mim um passo em falso
Ao escasso me ofereço
Mas se passa em sua cabeça
O que penso e o que passo?
É só isso que lhe peço
Antes de maçar o meu maço
Ao avanço me disperso
Já cansei-lhes meu disfarce
Minha face sempre sonsa
Tão sem graça já não desce
Mas se a mim cê reparasse
Num olhar me adentrasse
E a minha dor então sofresse
Meu agir reconhecesse
Na origem da ofensa
No assédio insistente
No meu câncer padecido
Na distância fluminense
No meu coração partido
Aí, sim, então somente
Cê veria meu sangue quente
Tão espesso e aderente
De emoções tão permanentes
Porém memórias displicentes
Que, por escória, só as más
Eu me lembro infelizmente
Mas, como disse, tropecei
E se cê visse a enorme pedra
Entenderia essa minha queda
Um tombo em combo que te quebra
Pisei falso pois havia...
...Bom. Xô ver.
Por onde eu começo?
Uma dor que me seguia
Um amor que não me ouvia
Um dó que me impedia
Um nó que amarraria
Só isso que lhes peço
E esse nó, xô lhe contar porquanto
Agarrara, coçara, tensão que me cegava
Agarrava, coçava e você não observava
Agarrou, coçou, um nó que me enfrentava
Entretanto
Agarrei, cocei, estarei sempre lutando
Agarraras, coçaras. E você, me observando?
Agora agarrará, coçará, sem mercês me ajudando
O tal nó vai me enfrentar com vocês sequer estando
Logo rogo toda praga a esse amor
Esse dó e a minha dor
Entre tantos
Outros
Afinal será um assombro
Das noias que aqui vejo
Quando volto por ensejo
Permanência do meu tombo
Ou minha ânsia, meu desejo
Dos viés a que me cobro
Dos papéis a que pelejo
Desequilíbrio do meu ombro
Quem mexeu neste meu queijo?
Agora sem quem aponte o dedo
Mora em mim um grande medo
Ora, eu vim um tanto cedo
Embora andei com esse segredo
Há muito tempo em meu enredo
Quem irá me visitar?
Sou muito de conjecturar
À expectativa de quem dá
Ou de quem vem pra retirar
Sofrerei com sá distância?
Sem todas suas tolerâncias
Sem todas suas paciências
Sem todas suas consciências
De toda essa minha desgraça
De tudo que eu faço graça
Do mudo que eu sou em casa
Do surdo que me faz bocejo
Do surto em mim de um assobio
Quem lembrar vem dar-me um beijo
Ou um abraço ou o queijo
Também isso eu ensejo
Pois desde cedo que eu velejo
Nessas águas tão longínquas
Em que crio tantas ínguas
À distância do que almejo
Meu longevo ato final
Será sem um sequer lampejo
Ou nenhum saco de sal
Que até hoje eu fraquejo
Farão, sem ignorância, linha extensa?
Explorarão a minha infância?
Numas sãs ações sensatas consciências
Dumas áreas pátrias páreas em parar minha frequência?
Parei nos vários bares solitários e aleatórios do Rio
Que fui à toa e soei pária nest’outro império em que suamos
Pois vim de apenas outr’afluência bem acima do que somos
Serásse esse sanatório
Sarará o meu suplício