Ninguém Vive Só (Mas Nós Podemos Tentar)
Composição: Henrique Reis.Os carros
Fazem silêncio
Em contrassenso
Às quatro da manhã
E das janelas,
Acenam homens,
Que vão aonde
Pra nunca mais voltar?
E nas cidades,
Com todos esses alarmes
Será que é tarde
Pra fingir adormecer?
Falta o dinheiro,
Faltam motivos
Diz cada um dos meus amigos
Um pouco antes de desaparecer
E lá de fora,
Batem a porta,
Chamam por nomes,
Sem ninguém pra responder
E o pastor na igreja,
Meu Deus, o que ele quer dizer
Com "não estamos sós"?
Será que ele não vê?
Que, pelas praças,
Senão, jogados nos cantos,
Com esta esperança tardia
Em nosso coração de criança
Lembramos que, ainda outro dia:
"Ninguém vive só
"Ninguém vive só
Sentávamos na sala
Dizíamos da vida
Perguntamos a hora
Perdemos a fala
De novo, a sala esvazia
"Mas ninguém vive só
"Mas ninguém vive só
E o rádio repete
O que o pastor dizia
Apontando pro alto
Pro homem do espaço
É quase uma profecia:
"Ninguém vive só
"Ninguém vive só
Morremos na calçada
Entre os refletores, na rua,
Cambaleando pra casa
Enquando em coro se canta
O mesmo absurdo de sempre:
"Ninguém vive só
"Ninguém vive só
Mas sabemos que, se olhassem de perto,
Assim, boquiabertos,
Um dia, porque há de haver um dia
Irão perceber que, apesar do contraste,
Da feliz artificialidade,
Transparecendo em nosso sujeito concreto:
No fim, que só nos resta tentar
Sim, só nos resta tentar
Sim, nós podemos tentar
Sim, nós podemos tentar