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Levar a vida na roça nunca foi o sonho dos primos Hudson Santos do Nascimento, 13 anos, e Joandeu Rafael
Os primos Hudson e Rafael fugiram para o Recife em busca de um sonho e vão realizá-lo: gravarão um CD. Foto: Helder Tavares/DP/D.A. Press
Barros dos Santos, 16. A agricultura até que seria um destino natural para os garotos que moram em um pequeno sítio onde se planta milho e feijão e se cria tudo quanto é bicho: cabra, carneiro, galinha# Mas da lida da roça eles querem distância. Longe da terra plantada. Perto dos palcos. Garotos magrinhos e cheios de disposição, eles já decidiram o que querem ser. Sonham em virar cantores de música sertaneja. Como os ídolos, Zezé Di Camargo e Luciano. Mas lá onde moram, a 16 quilômetros do centro do município de Ouricuri, que, por sua vez, fica no Sertão pernambucano a 623 quilômetros da capital, não dava para tentar a carreira artística. O jeito foi fugir. De violão no ombro e nenhum trocado no bolso, os primos e um dos irmãos de Hudson, Pedro Vinícius, 15 anos, colocaram o pé na estrada. Escaparam das rédeas justas de Marlene Barros, mãe de dois dos garotos e tia do terceiro. Correram pela estrada, cantaram e tocaram em ônibus, bar, festa# Arrumaram dinheiro. Pegaram um ônibus. E com lábia e garra, chegaram ao Recife. A cidade que, para os meninos, tem cheiro de mar e clima de filme (para Rafael, a Avenida Conde da Boa Vista bem que podia ser cenário do Homem-Aranha). Na correria da capitá, os meninos se viraram. Chegaram há pouco, 17 dias apenas. Mas agradaram. Vão até gravar um CD de graça. Os primos, agora são uma dupla sertaneja. Com direito a nome artístico. E assim começa a história de Hudson e Rafael. Os filhos de Ouricuri.
Primeiro palco
Música nunca faltou na vida dessa dupla. O pai de Hudson, Seu Nobilino, de 48 anos, compõe, toca violão e já chegou a tocar sanfona. "Ele só não canta mesmo porque não decora a letra. E se a gente copia a letra pra ele, ele não consegue ler por causa da vista", revelou a esposa Marlene. Na casa dela, por sinal, todos os cinco filhos (contando com Hudson e Pedro Vinícius) já deram, pelo menos, "uma palhinha" em alguma festa. Mas nada muito sério. Até agora.
A origem da gana pela vida artística que tomou conta dos três jovens que fugiram para o Recife está no Sertão. Tudo começou quando Hudson e Pedro tinham apenas 10 e 11 anos, respectivamente. "Eu ia fazer 12", ressaltou Pedro. Os dois irmãos tinham acompanhado os pais até o centro de Ouricuri para receber um pagamento. Mas a grana não saiu e a condução para voltar para casa ia demorar. Resultado: os quatro perderam a viagem e estavam com fome. Na tentativa de arranjar algum trocado, os dois irmãos foram a um restaurante e acabaram pedindo permissão para cantar. Conseguiram. A música, como não podia deixar de ser, é um dos sucessos de Zezé Di Camargo e Luciano, "Nosso amor é ouro". "As pessoas gostaram. Elas aplaudiram e a gente ainda ganhou almoço e R$ 5", lembrou Pedro.
Depois da primeira apresentação, os irmãos continuaram juntos, trabalhando como dupla. Na época em que Dona Marlene levou a família para morar em Juazeiro, na Bahia, Pedro e Hudson cantavam até em uma barca que fazia a travessia da cidade baiana para Petrolina, em Pernambuco. "Eles ganhavam mais de R$ 100 por dia", comemorou a mãe. Dinheiro dividido em três partes. Uma de cada artista e uma para ajudar em casa. Mas a dupla não durou mais que três anos. Pedro decidiu: quer seguir carreira solo. Tanto que não aceitou nem sair nas fotos para essa reportagem junto com os outros dois (o irmão e o primo). Foi aí que Joandeu (que prefere ser chamado de Joanderson, mas adotou Rafael como nome artístico) entrou na história.
A fuga
12 de outubro de 2008 - Naquela noite, Hudson, Rafaele Pedro não pensavam em fugir. Eles queriam mesmo era ir para a festa que estava tendo em Ouricuri, oferecida por um político local após as eleições. Mas, Marlene não deixou. Chegou a molhar a roupa dos filhos com água para eles desistirem. Em vão. Os meninos, ao contrário, fizeram de tudo para driblá-la. Tarefa difícil. A agricultora corria para um lado e os meninos para o outro. Durante a correria das "garras" de Marlene, surgiu a idéia de uma fuga ainda maior. Para onde, eles não sabiam ainda.
Na rodoviária, o combinado era simples: iam pegar o primeiro ônibus que passasse. E ele chegou. O destino era Araripina, cidade maior, que faz parte do pólo gesseiro do Araripe. Cada passagem custava R$ 7. Mas como os garotos não tinham uma moeda sequer, o motorista fez um acordo: os meninos iriam tocar no ônibus e, com o dinheiro arrecadado, pagariam a passagem. Ganharam R$ 10. A passagem dos três ficou por R$ 5, na camaradagem.
Em Araripina, os adolescentes resolveram ir à festa que estava havendo na cidade. Comoarranjar dinheiro? Do mesmo jeito. Tocaram em tudo que é bar no caminho e juntaram R$ 30 em meia hora. Ao chegar na festa, quiseram subir no palco, onde tocava uma banda de forró. Pediram tanto que conseguiram. Foram duas músicas e o primeiro cachê da vida: R$ 300. Agora era voltar para dormir na rodoviária. Mas, chegando lá, mudança nos planos. Conheceram um rapaz que iria para Salgueiro e descobriram que o ônibus para aquela cidade também ia para o Recife. Pegaram o coletivo. O destino: um sonho.
Capitá
13 de outubro - "A primeira coisa que a gente perguntou quando chegou na rodoviária do Recife foi: onde é a praia?". Só Hudson já tinha vindo ao Recife, cidade que conheceu rapidamente, quando foi a um hospital da cidade. Nenhum dos adolescentes tinha visto o mar. "Quando a gente chegou, foi logo tirando a roupa e entrando na água. O mar é salgado e meu olho ficou ardendo", disse Rafael, rindo. "Na primeira semana, foi praia todo dia", completou.
Mas se virar na "cidade grande" não é tarefa fácil. Muito menos para garotos do interior, que não conhecem nada da capital. Em uma pensão onde alugaram um quartinho no centro do Recife, eles chegaram a ser expulsos e tiveram que chamar a polícia para reaver o dinheiro. Para seguir se mantendo, era preciso cantar e tocar. E todo canto virava palco. "A gente tocou em ônibus e em restaurantes. Tocamos uma vez no metrô, mas disseram para a gente que não podia. Tentamos no aeroporto e em um supermercado, mas também não deu", disse.
Foi em um desses dias, que a sorte apareceu. De violão no ombro, indo tocar em mais um ônibus, Hudson e Rafael passaram em frente à Associação Municipal 10 de Agosto, também no centro, uma entidade que representa artistas locais. Na porta da associação, um funcionário não segurou a piada: "Ó os dois filhos de Francisco", disse. Mas o que começou como brincadeira acabou com a apresentação dos meninos ao presidente da associação, José Carlos Mendes, o Nino.
"Eu perguntei: Dessa viola sai alguma coisa? Eles começaram a tocar e eu me agradei", disse Nino. Tanto que vai bancar o CD da dupla Hudson e Rafael. Trabalho que sairia por, no mínimo, R$ 6 mil no estúdio onde será feita a gravação, que começa amanhã. Na próxima semana, o disco com 12 faixas, todas de artistas sertanejos já conhecidos, estará pronto. Mas o gostinho do "estrelato", os primos Hudson e Rafael já começaram a sentir ontem, com sessão de fotos para o Diario no centro do Recife.
Sonho e lida
Ver os filhos virando passarinho, como diz a música preferida dos meninos, "No dia em que eu saí de casa", cantada por Zezé Di Camargo e Luciano, não é tarefa fácil. No último dia 13, quando recebeu o primeiro telefonema, Marlene nem sabia que os filhos e o sobrinho estavam no Recife. Tomou um susto com a notícia. E veio atrás da cria, mesmo sem saber, ao certo, onde encontrá-la. Chegou no último domingo. Como mãe, ela luta pelo sonho dos garotos. Mas, teme. Por eles. Pela distância. Mas, com coração de mãe, ela também quer realizar o desejo dos meninos. Tanto que, apesar de querer voltar logo para Ouricuri, vai ficar até o CD ficar pronto.
A partir daí, é com eles. E Hudson e Rafael já sabem o que fazer. Vão, eles mesmos, vender os CDs. Tudo por um sonho. "Eu quero cantar, gravar, ficar famoso. Nem precisa ser muito, mas viver sem ficar apertado", disse Hudson. "Eu canto desde os cinco anos. Meu sonho nem é ficar muito famoso. Mas ser um cantor conhecido", disse o primo, seguindo os passos dos ídolos, os personagens reais do filme 2 Filhos de Francisco. Ah, e o outro garoto vai continuar tentando, aqui na capital ou em Ouricuri, a sua "sorte" como artista solo.