Marcas Do Preconceito
Composição: Ivan Souza.
Sempre diz que to fora de moda, tem vergonha e até se incomoda
Com meu português ruim
Acha estranho meu chapéu de palha e a memória que às vezes me falha
É motivo para rir de mim
Minha prosa, eu sei que te cansa, é meu jeito... Minha fala mansa
Foi assim que na roça aprendi
Diferente de você, tão moço, que já traz a maldade no rosto
E talvez nunca aprenda sorrir.
Sobre o tempo que passei na enxada, você diz que já não vale nada
Que a minha história é poeira
Que o mato que tirei no braço, foi inútil todo o meu cansaço
Foi bobagem lutar, foi besteira
Tenho orgulho de ser o que sou, e ter marcas que o tempo deixou
Desenhadas na pele e no peito
Mas tem uma que é muito doída, já faz tempo e não cicatriza
É a ferida do seu preconceito
Vez em quando me bate a saudade, até penso em ir à cidade
Pra poder lhe visitar
Mas só penso, desisto, não vou, calejado de tudo já estou
E sei bem como vai me tratar
É assim para eu passar da porta, terei sempre que tirar as botas
Para a terra a casa não sujar
Essa casa que é feita de luxo, foi na lida que a muito custo
Pra você então pude comprar
E se hoje se acha tão culto, foi graças ao papai matuto
Que pôde então estudar
Fico vendo a ironia da vida, dessa terra colhi a comida
E a força pra lhe sustentar
Mas virou foi um filho ingrato, que tem nojo da terra, é fato
Hoje sei nunca gostou de lá
Neste prato que tanto comeu você cospe todo orgulho seu
Se até do seu pai esqueceu
É só Deus para lhe perdoar