Morreu. Morreu de morte morrida. Era assim, um amor. Um amor, sabe? Desses que a gente imagina o futuro todinho. Teve até aquela vez que fomos convidados pra ser padrinhos, a vez que viajamos pra Paris e até aquele show, daquela sua banda favorita... qual era mesmo? Parecia um amor desses assim que a gente encontra na padaria. Não, não foi na padaria. A gente sabe onde foi. Não foi culpa minha. É que tudo fazia sentido. Por isso eu imaginei o futuro todinho. É que teve aquele dia que contamos tudinho, sabe? Falamos até dos nossos monstros escondidos no armário. E depois rimos da mesma piada. Era ruim. Mas nós rimos, bem na mesma hora, sabe? Era esse tipo de amor. Mas morreu. E morreu de morte morrida. E eu vi morrendo. Imagina se você vê o seu amor morrendo! Imagina... E eu quis segurar na mão do amor e dizer "vem aqui, vem aqui comigo, eu quero te mostrar que o amor não dói" Mas o amor não ouviu. Não me deu a mão. Igualzinho naquela música que a gente gostava "atravessou na contra-mão”. Parece que foi de morte matada, né? Mas não foi. Foi morrida. Ah não... não teve colisão frontal com muito sangue. Não foi assim. Foi assim… ele atravessou na contra-mão de tudo que eu imaginei. E foi indo lá pra longe. E eu? Eu não conheço lá longe. Eu disse "anda pro lado de cá, amor”. Mas o amor tinha outros planos. Andou pro outro lado. Eu gritei. Mas ele já tava lá pra longe. Não ouviu. O amor precisa de denguinho pra voltar, eu tentei dar. Tentei. Mas ele já tava lá pra muito longe. Eu não sabia chegar lá. E assim o amor, desses que a gente imagina o futuro todinho, foi morrendo. A gente assistiu. Ninguém matou. Morreu de morte morrida. E agora, veja só... os investigadores de amor me dizem que fiquei louca, porque ninguém nunca viu nenhum corpo estendido naquela estrada. Nem um pinguinho de nada que prove que o amor estava ali, andou na contra-mão e tenha morrido. Ninguém viu. Só eu estava lá. Segurei na mão dele enquanto pude. Teve até aquela vez que rimos juntos... do quê que era mesmo? Estranho... tinha um futuro todinho.