NO ESPELHO DA CACIMBA
Composição: José Amilcar Ferreira e Vitor Silva.
NO ESPELHO DA CACIMBA
Bem ali depois do passo, antes da curva da estrada,
quem cruza vê destampada uma vertente de água boa
que muito matou a sede de tropeiros e andejos
e já saciou desejos em janeiros sem garoa.
Quem olha assim não percebe que aquele poço assoreado
no meio do descampado rodeado pelo capim,
já viu prendas confidentes chorando seus desamores,
e foi coroado de flores tal qual um belo jardim.
Fonte de água potável vertendo sobre a coxilha, à noite olho que brilha refletindo estrelas nuas,
testemunha dessas luas que espreitam na canhada,
e no espelho da aguada se fazem potras xiruas.
Tens guardadas, em segredo, lembranças enclausuradas
das marcações, churrasqueadas, um tempo que se perdeu,
e o guri que te bebeu na caneca de alumínio
já deixou de ser menino, porém nunca te esqueceu.
Nas tardes de sol a pino: refresco de alambradores,
dos passarinhos cantores tu fostes a aguardente;
hoje vejo tuas lágrimas jorrando despercebidas,
pois estás no fim da vida com a morte olhando de frente.
Este é o preço que o tempo sempre cobra no futuro,
criando um cenário escuro em vez de paisagens lindas;
no quadro que Deus pintou deu ênfase à natureza
e o pincel da beleza Ele enxaguou nas cacimbas.