CORDEL CELESTE - Laécio Beethoven
Composição: Laécio Beethoven.Cordel Celeste
Surgiu nos “mei-de-feira” um escarcéu
Bem cedo se espalhou pelo Sertão
Que Cristo ao ver de perto Lampião
Curvou-se feito quem tira o chapéu.
O povo mais católico e fiel
Tratou de heresia, difamação.
João Grilo, por saber ressurreição,
Chamou à terra o anjo Gabriel.
E logo que desceu trouxe consigo
Um texto com os versos criativos
Qual mestre Patativa do Assaré.
E sobre o pergaminho pequenino,
Escrito sob os olhos do divino:
A sina do terceiro “fi” de Zé.
Sobe o pai José Ferreira
No ano de dezenove.
Em julho de trinta e oito
Seu terceiro filho sobe.
Virgolino decepado;
Cristo foi crucificado.
Comparar não sendo esnobe.
Suas mães eram Maria,
As companheiras também,
Deixaram a terra cedo,
Foram morar no além.
Lampião e Jesus Cristo
Nasceram em (vejam isto)
Vila Bela e Belém.
Ao avistar Ferreirinha
Na porta do paraíso
O Filho do carpinteiro
Fez o que achou preciso:
Tirou seu manto vermelho
E, sem pedir um conselho,
Capitão eu te batizo!
Andava com seguidores
E você com o seu bando.
Vivi a paz e a justiça
E você viveu matando,
Vingando seus velhos “ais”,
De que eu seria capaz
Se eu visse meu pai findando?
Eu já fui um andarilho,
Você pastor, artesão.
Eu, senhor de céus e terra,
Você, senhor do Sertão.
“Pedisse” perdão ao mundo
Naquele triste segundo
Nas mãos do tenente João.
Florindo o roda-pé da redação,
Recados e carimbos digitais:
José, Lucas da Feira, Caifáz,
Tomé, Silvino, Pedro, Lampião,
Januário, Jesuino, Abraão,
Zé Gomes Cabeleira, Barrabás,
Valente Zé do Vale, Capataz,
De Diabo Louro, Judas, Bom Ladrão.
Com letras, garatujas e rabisco,
A frase assinada por corisco:
“Abraços de Dadá, de Déia e meus!”
Cordel Celeste é para Pernambuco
Resumo de um mistério mameluco
Transcrito das linhas da mão de Deus.