Miniaturas da sociedade elegante P151 - Artur Azevedo
Composição: Maurício Gringo.Miniaturas da sociedade elegante - Artur Azevedo (Espírito)
1
Adriano Gonçalves de Macedo,
Homem de cabedais e alma sem siso,
Penetrou no seu quarto com um sorriso
Às dez horas da noite, muito a medo.
Uma carta de amante – era um segredo –
Ia abri-la, e, assim, era preciso
Que a sua esposa, dama de juízo,
Não na visse nem mesmo por brinquedo:
Dona Corália Augusta Colavida
Estaria nessa hora recolhida?
Levantou a cortina, devagar...
Mas, que tragédia após esse perigo...
Viu que a esposa beijava um seu amigo,
Sobre o divã, da sala de jantar.
2
No belo palacete do Furtado,
Palestrava a galante Mariquita
Com um pelintra afetado, assaz catita,
Bacharel delambido e enamorado.
De sobre a grande cômoda bonita,
Toma o moço um livrinho encadernado,
Revirando-o nas mãos, interessado,
Mas a jovem retoma-o, muito aflita:
- “Esse livro, Antonico, é meu breviário!”
Diz inquieta. E ele, cínico e falsário,
Arrebata-o às frágeis mãos trementes
Abriu-o. Mais o olhava e mais se ria...
Era um compêndio de pornografia,
Recamado de quadros indecentes.
3
Dom Castilho, notável latinista,
Realizara alentada conferência,
Sobre rígido assunto moralista,
Protegido dos membros da regência.
Foi um sucesso. E a esposa Ana Fulgência,
Nele via uma grande alma de artista,
Louvando-lhe a utilíssima existência
De homem probo e notável publicista.
Que primor de moral! e os companheiros
Escritores, poetas, conselheiros,
Foram levar-lhe um abraço camarada.
Numa corrida louca, esses senhores
Foram achá-lo em seus trajes menores,
No apartamento escuro da criada...