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Maurício Gringo

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Voz do Infinito P173 - Augusto dos Anjos

Composição: Maurício Gringo.
Voz do Infinito - Augusto dos Anjos (Espírito) 1 No excêntrico labor das minhas normas Na Terra, muita vez me consumia Perquirindo nas leis da Biologia As expressões orgânicas das formas. O fenômeno apenas, porque o fundo Do númeno às eternas rutilâncias, Eram partes do Todo nas Substâncias Desde o estado prodrômico do mundo. Com o espírito absconso em paroxismos, No rubro incêndio de batalha acesa, Via Deus adstrito à Natureza, Deus era a lei de eternos transformismos. Concepção panteística, englobando As substâncias todas na Unidade, Perpetuando-se em continuidade, A essência onicriadora reformando. O corpo, desde o embrião inicial, Era um mero atavismo revivendo; A alma era a molécula, sofrendo, Afastada do Todo Universal; Dominava-me todo o medo horrível, Do meu viver, que eu via transtornado: Eu era um átomo individuado Em cerebralidade putrescível. A luz dessa dourada ignorância, E com certezas lógicas, numéricas, Notava as pestilências cadavéricas Iguais à carne Angélica da infância, A sutilez do arminho que se veste, A coroa aromática das flores, Irmanadas aos pútridos fedores De emanações pestíferas da peste! Extravagância e excesso jamais visto, De idéia que esteriliza e desensina, Loucura que igualava Messalina À pureza lirial da Mãe do Cristo. Assim vivi na presunção que via, Dos cumes da Ciência e do saber, Os princípios genéricos do ser, No pantanal da lama em que eu vivia. Vi, porém, a matéria apodrecer, E na individualidade indivisível Ouvi a voz esplêndida e terrível Da luz, na luz etérica a dizer: 2 “Louco, que emerges de apodrecimentos, Alma pobre, esquelético fantasma Que gastaste a energia do teu plasma Em combates estéreis, famulentos... Em teus dias inúteis, foste apenas Um corvo ou sanguessuga de defuntos, Vendo somente a cárie dos conjuntos, Entre as sombras das lágrimas terrenas. Vias os teus iguais, iguais aos odres Onde se guarda o fragmento imundo. De todo o esterco que apavora o mundo E os tóxicos letais dos corpos podres. E tanto viste os corpos e as matérias No esterquilínio generalizados. E os instintos hidrófobos, danados, Em meio de excrescências e misérias Que corrompeste a íntima saúde Da tua alma cegada de amargores, Que na Terra não viu os esplendores E as ignívomas luzes da virtude. Olhos cegos às chamas da bondade De Deus e à divina misericórdia, Que espalha o bem e as auras da concórdia No coração de toda a Humanidade. Descansa, agora, vibrião das ruínas. Esquece o verme, as carnes, os estrumes. Retempera-te em meio dos perfumes Cantando a luz das amplidões divinas.” 3 Calou-se a voz. E sufocando gritos, Filhos do pranto que me espedaçava, Reconheci que a vida continuava Infinita, em eternos infinitos!

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