MC TIM: Pelo Funk para Paz

A 12 anos atrás Vicente Mendes Filho, conhecido em sua comunidade como ?Tim?, começou sua admiração pelo funk. O despertar para este estilo de música deve-se a influência de um colega de infância, que após envolvimento com o tráfico tentou através do funk se desvencilhar deste universo. Este colega escrevia letras de funk que retratavam a realidade da periferia e algumas foram escritas em parceria com Tim. Entretanto a renda obtida com apresentações em bailes e festas não era suficiente para suprir as necessidades básicas, o que levou o colega de Tim a desistir da música e retornar a criminalidade.

Buscando uma outra trajetória, Tim continuou a escrever letras de funk com uma mensagem positiva e pacífica, mas as oportunidades para divulgar seu trabalho eram escassas devido ao estigma nocivo que o funk possui. Frente a esta dificuldade, Tim reivindicou o espaço do Centro Comunitário de seu bairro e passou a promover ensaios abertos àqueles que, como ele, não tinham visibilidade com sua música. Utilizando equipamentos emprestados, os ensaios realizados semanalmente passaram a atrair cada vez mais jovens, que levavam suas letras e aguardavam a sua vez para cantar. Nesta época Tim, trabalhando como ajudante na construção civil, conseguiu gravar o primeiro demo de suas 3 principais músicas: Letra certa, a batida perfeita; Lugar bom de se morar; Eu quero paz.

Dada a repercussão, o encontro passou a se chamar ?Olhos no futuro? e contava com a participação de crianças, jovens e adultos, sendo que a oportunidade era oferecida a todos, desde que respeitassem a principal regra: as letras deveriam ser positivas, incentivando a cultura da não-violência. No entanto pela falta de apoio, recursos e material adequado os jovens que frequentavam os ensaios desanimaram e os encontros no Centro Comunitário deixaram de acontecer. Todavia, esta iniciativa possibilitou que Tim conquistasse abertura na comunidade para organizar eventos de funk, onde oportunizava que os jovens do projeto ?Olhos no futuro? se apresentassem.

No ano de 2007, Tim presenciou uma mobilização promovida pelo Rede Jovem, projeto da Gerência de Juventude/SEMAS/PMV, e aproveitou para apresentar seu projeto, ou seja, um funk mais consciente, que busca distanciar-se da imagem marginalizada que o mesmo carrega. A proposta foi bem aceita pela equipe do Rede Jovem, que por sua vez convidou Tim para participar das ações. A entrada no Rede Jovem trouxe maior visibilidade ao trabalho que era realizado apenas na comunidade de Bela Vista (Vitória), além de receber a nova denominação, ?Funk da Paz?.

Através do Rede Jovem, o Funk da Paz passou a integrar as ações do Circuito Cultural, atividade permanente da Secretaria Municipal de Cultura (SEMC) que desenvolve oficinas artísticas nas oito regiões administrativas da Capital. Após 1 ano de atividades no Circuito, o Funk da Paz foi convidado a ministrar oficinas no Programa Escola Aberta.

Em 2009 o Funk da Paz atuou durante os 12 meses de execução do PROTEJO, projeto integrante do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), idealizado pelo Ministério da Justiça. O PROTEJO tem por objetivo promover o acesso de jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social às políticas públicas governamentais, bem como despertar o interesse desses jovens e adolescentes para a ampliação de seu leque de conhecimentos e oportunidades. No município de Vitória, as atividades do PROTEJO ocorreram no bairro São Pedro. Vale ressaltar que a solenidade de implantação do PROTEJO no estado contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o qual assistiu uma apresentação do Funk da Paz com Tim e seus alunos da oficina de letra e rimas.

Outro importante destaque foi a produção do vídeo-clipe ?Favela, lugar bom de se morar? pelo cineclube Cine Kbça. O roteiro do vídeo foi baseado na música de autoria do MC Tim e traz ele próprio como protagonista. O vídeo foi selecionado, entre outras produções audiovisuais inéditas, para participar da Mostra de Vídeo na 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública e também da mostra competitiva do 5º Festival de Jovens Realizadores de Audiovisual do MERCOSUL, ambos em 2009.
Por conta de sua militância em defesa da cultura da paz, MC Tim tem sido convidado a debater a questão da violência juvenil em vários espaços de circulação do saber, dentro os quais podemos citar a audiência pública Juventude X Violência, organizada pela da Secretaria Municipal de Assistência Social, Trabalho e Cidadania e Câmara de Vereadores da cidade de Colatina, bem como o II Seminário Temático Violência e juventudes, promovido pela Pró-reitoria de Extensão da UFES.

Tal representatividade junto a juventude o levou ainda a ser indicado como membro efetivo do Comitê da Paz de Santo Antônio (Vitória), uma das ações do PRONASCI, desenvolvido de forma integrada pela Prefeitura de Vitória, Governo do Estado e Tribunal de Justiça.

Outrossim, o legado que a proposta do Funk da Paz tem deixado na trajetória de MC Tim rendeu sua indicação com representante da região de São Pedro (Vitória) no 1º Encontro Teia da Memória, encontro ocorrido em Salvador (BA) que teve por objetivo apoiar a criação de museus em comunidades caracterizadas pelo alto índice de violência, além de trabalhar na reconstrução e proteção da memória social e coletiva das comunidades a partir de seus moradores, suas origens, histórias e valores.