- 01 - Alegria de Pé de Serra8.838 plays
- 02 - Sonho de Caboclo4.510 plays
- A Puxada3.126 plays
- 03 - Olho Dágua2.651 plays
- Chameguinho1.793 plays
- 04 - Festa na Roça2.999 plays
- Xaxando2.146 plays
- 06 - Sem Vergonheira1.563 plays
- Cirandinha1.490 plays
- 07 - O Mangangá1.594 plays
Comunidade
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Release
No século XIX a indústria brasileira ainda era muito atrasada. Dá pra imaginar então como era no sertão da Bahia. As pessoas com suas culturas de subsistência levavam uma vida muito simples. Qualquer produto industrializado, por mais simples que fosse, chegava ao sertão nas tropas de burro vindas de localidades onde passava o trem de ferro. Neste trem eles embarcavam os produtos levados do campo, fumo, toucinho e outros, e recebia produtos industrializados vindos das capitais ou do exterior.
No município de Vitória da Conquista, num lugarejo chamado Amargoso morava parte dos meus ancestrais. Num certo dia, no retorno de um tropeiro ao sertão, a tropa parou em frente à casa do avô do meu avô, Exídio José dos Santos, o véi Gido. Este recebeu das mãos do viajante um embrulho, entrou em casa e chamou a sua filha, minha bisavó Rita. “Ta aqui o seu presente”, disse a ela que saiu saltitante de alegria.
Aquele sertanejo de vida simples não teve noção do bem que ele causaria a toda sua descendência. A riqueza cultural que ele provocou com aquele simples ato foi tão intensa que hoje, cento e vinte anos depois, eu me beneficio não só cultural como também economicamente da onda por ele provocada. Minha bisavó foi quem menos aproveitou o presente, a coitada morreu de parto aos dezenove anos de idade.Bem, voltando ao Amargoso, encontramos a menina Rita pulando de alegria ao abrir o presente. Ganhara do pai uma sanfona de oito baixos.
Daí em diante foi como uma pedra jogada num lago. Meu avô tocava, meus tios avós tocavam. Os filhos destes e os filhos dos filhos.
Quando eu nasci essa história já tinha quase um século, então eu não tenho dúvida ao dizer que a sanfona e o forró correm nas minhas veias, estão entranhados na minha alma, são a minha vida. Conseguimos manter viva a nossa música mesmo na pior das crises que teve início com a guerra do Vietnã, onde o movimento hippie provocou as bandas de rock e continuou com a ditadura militar brasileira onde a música de protesto se sobressaiu. Ainda nos anos 80 tocávamos com timidez, pois o sucesso estava com os guitarristas, bateristas e rockeiros. Findo esse período e felizes por ter conseguido trazer até aqui o forró, partimos pra frente.
No ano 2000 meu irmão Lili, violonista, minha sobrinha Ariadne, pianista, e meu primo Nordélio, sanfoneiro, resolveram montar uma banda. Eu, meu tio Sula e meu primo Carlos copiamos a idéia e eu disse “eles fazem a banda boa e nós a banda pôde”. Fizemos depois uma fusão de bandas e estava formada a banda Pôde, Íris, Lili, Sula e Júnior. Por achar o nome comercialmente fraco, o nosso irmão, também sanfoneiro, Romualdo colocou o nome Amantes do Forró e o público sempre crescente passou a nos chamar carinhosamente de Os Amantes, que é hoje o nosso nome oficial com logomarca e tudo.
Então Os Amantes, o autêntico forró, não é apenas uma banda de forró que está aproveitando a boa fase, somos um braço de uma cultura, de uma história, representantes de um povo e temos a obrigação de conservar a música raiz, de mostrar essa cultura aos povos e de passá-la aos nossos descendentes, pois acreditamos que a nossa música nos une e nos deixa mais fortes e felizes.
Íris Dias dos Santos Correia – Sanfoneiro da banda.