Peça Por Peça (Bispo, Torre, Rainha)
Composição: QI.Bispo: Representa o padre ou pastor, a batina ou o paletó banhado a ouro, sujos de esperma e de lágrimas de crianças que escorreram durante o abuso sexual na catequese ou na escola dominical. Esses são especialistas em uma das jogadas mais clássicas do jogo, o “xeque pastor”, metamorfoseado no método de arrecadação de dízimos dos fiéis, extorquindo até a última moeda de ajudantes de pedreiros e das auxiliares de serviços gerais, isso quando não exigem cheque para 30,60 e 90 dias ou são auxiliados com máquinas da Redecard, Gertec e Cielo para pagamentos débito ou crédito em troca da salvação ou da vida eterna.
Torre: A vigilância, observação, que fica nas extremidades do tabuleiro, em pontos estratégicos no condomínio de luxo ou na penitenciária, dispõe de dispositivos de segurança como binóculo, fuzis com lentes de alta precisão e visão noturna, ou seja, uma guarita pronta para abater qualquer invasor ou fugitivo que tentar transgredir as dependências territoriais estabelecidas pelo opressor. As câmeras nas ruas, com sistema de vigilância integrado, para tornar mais rápida e precisa a ação do comboio militar ou dos grupos de extermínio.
Rainha: A peça com maior poder de movimentação dentro do tabuleiro, assim merece uma análise a partir da cor e do lado em que estão colocadas. Rainha branca, a socialite, que tem como terapia antidepressiva humilhar suas empregadas domésticas toda manhã, a quantidade de casas que pode mover-se na horizontal representa o número de restaurantes de luxo que podem ir toda semana, ostentando com seu grupo de vagabundas, suas jóias raras, colares que custam mais do que qualquer barraco na quebrada; as casas que se deslocam na diagonal são as inúmeras viagens que fazem durante o ano, Paris, Hollywood, Milão, Dubai, Londres; As rainhas que compram vestidos de pele de animais que tem como valor o equivalente a inúmeras sextas básicas que supriria a necessidade de crianças com cargas horárias de 14 horas diárias nas empresas dos reis; As piranhas que tem fantasias sexuais com os peões, aqueles que limpam suas piscinas, cuidam dos seus jardins e estacionam seus carros. A mesma rainha branca que alimenta seu cachorro com filé mignon e o leva para o pet shop toda semana, fecha o vidro no semáforo a partir de um levantar da mão de um mendigo desnutrido e com a roupa rasgada.
A rainha preta, que acorda às cinco da manhã pra limpar a privada de ouro da rainha branca, que passa o terno Prada dos políticos e empresários ou os jalecos brancos dos assassinos que estão na ponta da garantia do direito a saúde, adquirindo queimaduras nos braços, tendinite nos pulsos e posteriormente perca total dos movimentos, impossibilitando a realização do trabalho irregular que custa R$ 25,00 a diária, diárias essas que acontecem todos os dias, exceto um dia da semana, o dia de ser humilhada na visita para ver o filho com hematomas por ter sido espancado pelo agente penitenciário ou implorando por dinheiro pra não ser morto no próximo banho de sol. A rainha que devido ao racismo e exclusão social, não tem oportunidade de emprego na capital e se vê obrigada a deixar os filhos ou enviá-los pra outro estado em decorrência do trabalho na casa da família rica, onde terá que dormir e no outro dia alimentar e criar filhos que não saíram do seu ventre, para que no mínimo a comida e os materiais escolares dos seus seja garantido.