Frio De Agôsto
Composição: Nenê Balestra.Frio de Agosto
A chuva parou no final da tarde /E na madrugada o vento se acalma
Um galo que canta quebrando o silêncio /E esse frio de Agosto me gela até a alma
Um potro relincha ao redor das casas /Pedindo ração cheirando o embornal
A geada lobuna em cima do barro /É um tiro na cola dos pobre animal
Eu bato os tição e acordo o braseiro/Que dormem na cinza do fogo de ontem
Vejo congelada a água do cocho/E a geada ta ali, branqueando o horizonte
A cada inverno, que chega eu me assombro /Porque tenho medo, de um certo fracasso
É uns quantos janeiros, pesando em meus ombros /Rigores do tempo e alguns sinfronaços
Mas cumpro a minha parte, que tenho assumido/Enquanto ainda tenho, a força nos braços
E o pouco que eu gasto na estância onde vivo /Eu pago tranqüilo com o tanto que faço.
II
Mateio ao costado do fogo de chão/Porque peão de estância levanta bem cedo
Encilho meu pingo e saio pro campo /E o sol só me alcança lá pelo varzedo
Em seguida o patrão chega na estância /Preocupado com o frio da noite que foi
Colhendo os magos que caiu no barro /Porque o olho do dono é que engorda seus bois
Eu cuido a capricho sou pago pra isso /Enfrento o rigor da geada lobúna
E também acredito no velho ditado /Que Deus sempre ajuda um peão que madruga.
III
Enquanto as geadas branquearem os campos /Os janeiros também me entordilham as melenas
Eu me preocupo com o peso da idade /Que atrás da velhice só vem os problemas
Vejo no espelho as rugas do rosto /E viro esta página triste do livro
Ali só se enxerga tristeza e desgosto /Eu não tenho tempo pra ser depressivo
Então munto no lombo da vida maleva /Sou mais que um ginete com força para andar
Chilenas forjadas com fé e esperança /Sustento a razão pra mim não fracassar.