Desde a época em que surgiram os primeiros indícios da prática do surfe, estima-se há mais de dois mil anos, os nativos polinésios utilizavam a música para passar adiante sua cultura, que tinha entre seus principais alicerces o surfe, o esporte dos reis. Mais tarde, quando os polinésios ganharam o mar em suas canoas e descobriram o arquipélago havaiano, a prática do surfe exigia vários rituais de permissão e agradecimento, dentro dos quais a música se fazia presente. Também na história do surfe moderno música e surfe sempre estiveram ligados, seja no surgimento de um estilo de música ? Surf Music, seja com surfistas que se tornaram músicos, e vice-versa, seja nos filmes de surfe, que sempre tiveram suas trilhas sonoras embalando as viagens dos surfistas em busca da onda perfeita, ou até mesmo no meio daquela sessão de surfe, quando você se surpreende cantarolando aquela música alucinante.
Mas como trazer para dentro da música o clima do surfe? Pensando nisso é que o surfista e músico Tiago Constante vem há algum tempo trabalhando em busca de uma estética praiana, integrando contemplação e respeito à natureza à consciência adquirida em mais de duas décadas de entrega ao surfe e quase 15 anos à música.
No surfe iniciou aos 3 anos de idade, incentivado pelos irmãos mais velhos, que já surfavam, na ilha de São Francisco do Sul. Dedicou sua vida às competições dos 10 aos 20 anos de idade. Foi campeão francisquense de surfe em todas as categorias amadoras que disputou. Chegou a ser campeão gaúcho de surfe iniciantes e júnior, além de sempre figurar entre os top 10 dos circuitos gaúcho, catarinense, paranaense e brasileiro. Durante os 2 anos que atuou como profissional foi top 8 do circuito gaúcho. Atualmente está ligado à área do ensino do esporte, tendo dado aulas de surfe em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Portugal.
Na música, paixão que também vem da sua infância, também incentivada pela sua família, começou a desenvolver suas habilidades mais tardiamente. Apenas aos 15 anos de idade é que foi realmente despertar para este mundo mágico, aonde a imaginação pode fluir sem amarras ou barreiras.
Começou com o violão de seu irmão Vladimir, tocando com os amigos, em luais ou em casa. Aos poucos o violão foi ficando pouco para a sua vontade.
Assim aparece a guitarra na sua vida: uma (r)evolução. Nesta época Tiago estava no auge da sua vida competitiva no surfe, mas a música ganhava cada vez mais importância na sua vida. Levava sua guitarra, ou violão, para aonde quer que fosse. Era um item tão importante na sua bagagem quanto a sua prancha ou suas roupas
Aos 20 anos de idade, decidido a largar as competições, forma a sua 1ª banda, a Fashback, aonde começa a compor suas primeiras músicas, na linha do blues e do reggae. Mais tarde faz uma rápida participação na banda joinvillense de hardcore Ignis, que acaba por influenciar algumas de suas composições mais para o lado do rock. Decidido a melhorar como músico, começa a estudar teoria, canto e guitarra em escolas de música em Joinville.
Aos 22 muda-se para Porto Alegre, a fim de aprimorar seus conhecimentos em aulas de harmonia, técnicas de improvisação e síntese sonora, aulas estas ministradas por seu irmão, Rogério, que na época havia iniciado o doutorado em música. Além das aulas com seu irmão fez também aulas de canto e iniciou o curso de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com intuito de melhorar sua escrita e fluência no inglês.
Nesta época funda, em conjunto com os irmãos Ivan e Íris Andrade, os Truth Junkies, uma banda de hard rock com tons de metal melódico e flertando com o rock progressivo, influência do baterista Duca Gomes, que mais tarde veio a integrar a formação da banda. Os Junkies tinham músicas com letras prioritariamente em inglês e a divisão das composições entre Tiago e Ivan.
Um ano e meio mais tarde, após o fim dos Junkies, Tiago resolve partir para o trabalho solo, na busca de um som experimental. Estas experiências sonoras acabam por trazê-lo de volta ao violão, seu ponto de partida, porém com muito mais bagagem, na busca por um som realmente original e verdadeiro.
Nesta busca por elementos ideais, o mar e o surfe sempre estiveram presentes. Em 2007, durante viagem a Portugal, passou incontáveis horas apreciando o sol se pondo no mar e ouvindo a maravilhosa combinação entre o seu inseparável violão e o mar.
Durante essa busca da estética ideal, um elemento que foi se tornando imprescindível na sua música foram as referências à ilha de São Francisco do Sul ? SC, local aonde viveu grande parte da sua vida ? ainda vive ?, e que foi fundamental na sua formação, tanto como surfista quanto como músico.
Daí nasceu a idéia deste projeto sonoro que visa, antes de tudo, prestar uma reverência ao mar, à filosofia do surfe, quase uma oração de agradecimento a este mundo encantado que ilumina a mente de cada surfista ao redor do mundo, e à ilha encantada de São Francisco do Sul.