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SIGNOS QUENTES DE UMA NOVA VIDA
Por Márcio Grings
Transformações são movidas por desejos de mudança. E toda transmutação artística é uma saída – nem sempre estratégica – de uma possível zona de conforto. Sabemos, é impossível prever o que surgirá após uma nova curva. Porém, quando adentramos por quebradas divergentes, o farol dos nossos olhos ilumina a possibilidade de encarar o próprio assombro dessa revelação.
É o que deve estar acontecendo com Tarciano, cantor/músico/compositor radicado em Santa Maria, cidade localizada no Centro do RS, pois o músico acaba de deflagrar um novo rumo em sua carreira. A afirmação está vinculada as impressões de sua estreia autoral no CD “Canto Pra Você” (2014), quando a configuração era outra, uma visível tentativa de apostar numa linhagem mais POP/romântica. Já em “Novo Eu”, o botão turbo foi acionado. Afinal, é o rock’n’roll que carimba com signos quentes as quatro canções apresentadas no EP.
Tudo começa com “Quanto vale?”, primeiro single e também tema escolhido como videoclipe do trabalho. Dirigido por Fabrício Koltermann (Toca Audiovisual), na tela podemos ver um desfile de beldades femininas a ilustrar uma letra que explora o universo do sexo e prostituição, com algumas de suas futilidades e sensações transitórias de conforto. “Quanto vale ser o que não é / Sua grife não esconde quem no fundo você é”. E quando de largada percebemos uma das principais virtudes a assaltar nossos ouvidos: – a massa sonora imposta pelo quarteto Diego Pignataro (teclados), Cezar Nogueira (bateria) e Leo Mayer (guitarra, baixo e violão). Trata-se de uma banda de rock soando grandiosa, entrosada e bem gravada. Méritos para Mayer, responsável pela mixagem e masterização do CD, além de acumular a direção musical do projeto.
Com uma camada de guitarras ao melhor estilo do hard rock norte-americano, em “Ilusão”, a voz de Tarciano alude à lembrança de Humberto Gessinger e seu Engenheiros do Hawaii. Contudo, a comparação é soterrada instantaneamente não só pelo background de um teclado fantasmagórico, mas principalmente pela energia do baixo e bateria. TUDO soa menos POP e mais ROCK.
Em levada autobiográfica, “O que eu já fiz” é um rockabilly que evoca narrativas #RaulSeixistas. Um convite a viajar ao embalo dos anseios e mazelas do protagonista da história: “Vou te contar o que na vida eu já fiz / Já fiz de quase tudo / Mas ainda não aprendi”. O tema abre mão do refrão para eclodir na guitarra cíclica de Leo Mayer, encharcada de blues e timbres característicos que sugerem o inconfundível estilo do guitarrista Brian Setzer (Stray Cats).
E fechando o EP, Tarciano revisita a melhor faixa de seu disco de estreia. Em nova versão, “O sabor do Tempo” começa como um falso folk, para logo em seguida novamente abrir espaço ao rock, e assim, cantor e banda tingem os últimos momentos do trabalho com o gênero dominante nos arranjos musicais.
Dá pra dizer que Tarciano nos deixa com a impressão que sai mais coelho dessa cartola. Afinal, quatro músicas soam como se apenas uma pequena parte do anunciado ‘novo eu’ do título. Em pleno tour de sua segunda vida artística, o artista ainda vive os primeiros momentos do espectro dessa reencarnação. Seus pulmões estão inflados, agora é criar coragem e voar.
Márcio Grings é radialista e jornalista. É produtor de conteúdo no blog Gringsmemorabilia e também assina uma coluna com seu nome no Jornal A Razão.