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Tatiana Cobbett: multiartista resistente e desbravadora
Não é à toa que Tatiana Cobbett é reconhecida como uma multiartista. Seus talentos como cantora, compositora, cenógrafa, intérprete e produtora sucedem sua carreira inicial de bailarina com igual maestria.
Tatiana nasceu carioca em 1960 e sempre teve a presença constante da arte em sua vida. Única mulher entre os cinco filhos do diretor de cinema William Cobbett (produtor e diretor do Cinema Novo) e da produtora cultural Eliana Cobbett (primeira mulher produtora executiva de cinema no Brasil). Sobrinha de Adélia Sampaio, primeira mulher negra a dirigir um longa- metragem no Brasil.
E foi na dança que encontrou a primeira maneira de se expressar. Bailarina formada pela Escola de Danças Clássicas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, antes de completar o curso de História na UFRJ, aceitou uma bolsa de estudos e, aos 18 anos, foi para Nova Iorque estudar dança moderna e contemporânea.
Ao retornar, ingressou numa das mais importantes companhias de dança brasileira: a Companhia Paulista Balé Stagium, onde trabalhou por 13 anos percorrendo o Brasil, toda a América Latina, América Central e alguns países da Europa.
Entre seus estudos estão o curso de interpretação e direção com Ivan Albuquerque e o curso de canto com Nancy Miranda e o maestro Samuel Kerr.
Escreveu, coreografou, produziu e atuou em diversos espetáculos, entre eles o
musical
Mulheres de Holanda
, obra que foi indicada ao prêmio APETESP pelo texto e trilha sonora. Coreografou para teatro e dirigiu várias instituições culturais, incluindo o Teatro Pirandelo, em São Paulo.
Produziu atuou e dirigiu o Balé Grito das Flores, em parceria com o SESC São Paulo, para o evento Eco92 no Rio de Janeiro. Também produziu e dirigiu o espetáculo Alma Flamenca, reunindo bailarinos brasileiros e músicos ciganos radicados em Buenos Aires.
Na época, cantarolar e inventar versos já eram a marca da bailarina. Seu encontro mais estreito com a música se deu como produtora e diretora de shows. Quando se mudou para Florianópolis, em 1997, Tatiana deu vazão à sua veia de compositora.
Produção e direção artística
A carreira de Tatiana Cobbett também é marcada por sua atuação por trás da coxia. Em São Paulo, foi diretora do Teatro Pirandelo e criou o projeto São Paulo Étnico Cultural, para o qual concebeu, montou e dirigiu os seguintes espetáculos:
Festival Três Bandeiras
(trabalho voltado para a dança de salão, reunindo músicos e bailarinos argentinos, uruguaios e brasileiros);
Esta Terra Portuga
(com foco nas danças e o cancioneiro popular de diversas regiões de Portugal além do Fado);
Partituras da Itália
nas vozes do Rio
(com o compositor e cantor tenor Mario Páris, do Teatro Municipal do Rio de janeiro);
Projeto Laços e Cordas
(com Chico Cezar, Zeca Baleiro, Paulo Lepetit, Carlinhos Antunes, Tutti Baê e Badi Assad).
No ano de 1997, Tatiana foi convidada para participar das comemorações do Centenário do Teatro Municipal de Manaus, ministrando a oficina Corpo Lúdico. Assim, retornou para São Paulo como programadora do Espaço Cultural Avenida Club.
Durante sua gestão e com sua curadoria, conquistou o Prêmio Sharp de Melhor Musical com os espetáculos
“Os Cafajestes”
, que teve a direção de Fernando Guerreiro, e
“Os Quatro Carreirinhas”
, com direção de Wolf Maia.
Em 1998, enquanto artista e ativista cultural que sempre foi, recebeu o Prêmio Capital Cultural promovido pela Secretaria de Cultura de Sergipe/PE em parceria com o Jornal Capital. Naquele ano, também dirigiu show de lançamento do CD Chamaleon, lançado nos EUA pela violonista, cantora e compositora Badi Assad.
Além disso, Tatiana Cobbett também atuou em Florianópolis/SC em diversos projetos culturais. Entre eles a direção do show de lançamento do CD
Menina
, de Joel Brito e Janet Machnacz e ainda a direção do show de lançamento do primeiro CD da compositora Nara Lisbôa, ambos artistas catarinenses.
Esteve também na direção do evento Musical Solidário, reunindo 12 bandas locais num total de 72 músicos, em favor da não-violência. Idealizou e programou as Terças Culturais da Cervejaria Continental em Florianópolis; desenvolveu e programou o espaço Cultural Quintal dos Açores.
Em 1999 foi convidada a dirigir o show de Badi Assad, viajando para os EUA. Naquele mesmo ano, retornou ao Brasil para assumir a direção artística do lançamento nacional do livro
Anita Garibaldi, uma Heroína Brasileira
, do escritor e jornalista Paulo Markun.
Dirigiu e participou dos vocais no show
Meu Santo Antônio
, da compositora Nara Lisboa, percorrendo diversas cidades brasileiras. Em parceria com a TV Cultura de São Paulo produziu o lançamento, em Florianópolis, do documentário “
AI5 - O dia que não existiu”
, também do jornalista e escritor Paulo Markun.
Especificamente na direção de shows, trabalhou com músicos como Badi Assad, Carlinhos Antunes, Janet e Joel Brito, Vanja Orico, Tuti Baê, Raquel Barreto, Jana Gularte, além de alguns grupos instrumentais como o Quarteto Rio Vermelho, Mauro Albert Trio, Musical Elas por Elas, Leandro Fortes, além de diversos lançamentos de CDs em Florianópolis.
Tatiana também escreveu, coreografou, produziu e atuou como bailarina, diretora e cantora em espetáculos por todo o Brasil, América Central, América Latina e alguns países da Europa.
Sonora Parceria
Outro talento que Tatiana tem é o de juntar pessoas. Seu interesse pelas parcerias, pelo trabalho em conjunto já rendeu muitos frutos ao longo de décadas de carreira.
No ano de 2000, junto ao músico gaúcho Marcoliva, iniciou seu trabalho na música autoral, construindo uma rede de parceiros em vários lugares. Da união musical com seu amigo
Marcoliva, o resultado foram cinco discos já lançados: Parceiros (2001), Bendita Companhia (2009), Música Súbita (2010), Corte Costura (2012) e Sawabona Shikoba (2015).
A Sonora Parceria também contou com a participação de diversos artistas, entre eles BB Kramer, Alegre Correa, Jean Garfunkel, Guinha Ramires, Luís Meira, Leandro Fortes, José Fontes, Khrystal Saraiva e muitos outros.
Artista atuante em diversos coletivos como Elas por Elas e Coletivo Odara, a artista se uniu à musicista brasileira JujuBatera e às portuguesas Penthy Roussies e Iris Sarai para compor o grupo
Raparigas do Groove
, projeto que se desenvolve em Lisboa e visa dar voz ao trabalho autoral da cena artística em que atuam, além de valorar e visibilizar a participação da mulher na música.
Artista premiada
Entre inúmeras premiações, destacam-se:
Prêmio Personalidade da Música Catarinense (Edino Krieger) pela ACLA;
Título de Cidadã Sergipana (com unanimidade de votos) pelos feitos culturais no
estado de Sergipe;
Festival de música autoral SESC SC;
Indicação ao APETESP pela trilha e concepção original do Musical Mulheres de
HolLanda, com direção de Naum Alves de Souza;
Prêmio Maria Olenewa - Dança Moderna e Contemporanea;
Prêmio Funarte – RespirArte 2020;
Finalista no Prêmio Profisionais da Música “Categoria Autora - música e letra da região
Sul”.
Lá & Cá
Atualmente, numa residência artística em Lisboa, tem se dedicado a desenvolver um intercâmbio com artistas locais e múltiplas linguagens.
Desse modo, há três anos Tatiana se divide entre Lisboa e Florianópolis, desenvolvendo o projeto
Lá & Cá
, que impulsiona a interação de artistas nos dois continentes.
O processo é o mote para a Performance Poética Corporal de Intervenção
“Cara de Meia
”, uma espécie de alterego elabora pela artista, e que tem resultado numa série de ensaios fotográficos.
Outros produtos gerados a partir do Lá & Cá serão um livro de imagens e poemas, um novo álbum da artista, que já lançou quatro singles durante o ano de 2020:
Ultimar, uma parceria com o músico português Luís Lapa;
Inominável, parceria com o músico e compositor gaúcho Guinha Ramires;
Bem me Quer Mal me Quer, canção que ganhou de presente da cantautora
catarinense Ana Paula da Silva e;
Voo, lançamento em que Tatiana Cobbett, de forma estritamente autoral,
convida músicos, cantores e poetas para atuarem conjuntamente em performance artística que dá forma ao clipe da música.
Cilada
Flor Bela, onde a artista musica o poema Se tu viesses ver-me da poeta Portuguesa: Florbela Espanca
Outro projeto que Tatiana Cobbett desenvolve em Portugal é o
“Ponto de Luz”
, pensado para ocupar espaços públicos, no formato TRIO, e que conta com a parceria dos músicos Miguel Ataíde no violão e Marcio Lima na flauta.
Enquanto isso, um concerto especialmente criado para apresentações no Brasil –
Cantos e Causos Lusófonos
– é desenvolvido em parceria com o pianista Fabio Oliveira, percorrendo diversos palcos e cidades brasileiras durante o ano de 2019.
Vale ressaltar que
Cantos e Causos Lusófonos
é uma quase biografia recente, onde a artista apresenta repertório autoral e faz um paralelo com artistas mulheres que tenham por afinidade ou parentesco, alguma identificação com Portugal como Chiquinha Gonzaga, Adriana Calcanhoto, Dalva de Oliveira e Carmem Miranda, por exemplo.
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Tatiana é uma artista multifacetada, que entende que a arte não é só entretenimento e, nesse sentido, sempre procurou acrescentar um olhar pesquisador e crítico, bebendo em várias fonte
s e misturando linguagens na sua atuação e processo de c
riação.
Assim, consolidou sua trajetória artística, trabalhando de maneira autoral, fomentando parcerias e atuando fortemente no cenário da arte independente.