Se fosse me definir musicalmente eu simplesmente perderia a resposta. Talvez falasse em demasiado e terminasse ficando uma definição vaga, redundante... Portanto usarei a seguinte expressão: ?Sinto que sou a mistura de tudo que ouvi e vivi, entre tantas coisas, eu sou balanço, ?irreverência?, minha essência é soul!?

O soul é assim: é como se você sentisse amolecer o botão da espinha, as juntas começam a desfalecer no fluxo das idéias claras, e cada palavra surge porque tem que surgir, da naturalidade do ser; você simplesmente escuta o que o fantasma da canção te diz na madrugada, e depois faz de conta que quem escreveu foi você. Pelo contrário: é a canção que nos escreve, é ela que nos guia com seus olhos de farol.

Há muito tempo que esse suingue treme pelas ladeiras, e a gente fica todo desorganizado, um bicho mamulengo, invertebrado, se contorcendo no som de um beat cheio de veneno, querendo explodir. O groove te liga na tomada, às vezes você perde o juízo, e o instinto de se mexer parece brotar de um moto-contínuo, noite e dia, anos a fio nessa delícia de extrair o ritmo, a amizade, a celebração e a alegria de tudo ? até mesmo das sabotagens de um amor perdido.

O corpo se move entre becos, cidades, rios e favelas, fotografando tudo ? a dureza engavetada do dia salta aos olhos. Mas esse clima... essa rapaziada.. essa energia pulsando nas veias... É tudo muito mais forte, muito mais vivo. É a música brotando pelos poros.