Quando o Grito Enfim Chegar
Composição: Thiago K, Gregory Haertel, Sandro Dornelles, Dani Nega.É preciso acordar
Não temer o terror
O silêncio é a favor
De deixar como está
É urgente dar voz
Explodir aflições
Desembainhar canções
Engasgadas em nós
É preciso quebrar
A barreira do som
Trovejar megatons
Desestabilizar
É urgente gritar
Gritos de ensurdecer
Decibéis distorcer
Se fazer escutar
E no ar rarefeito
Dar jeito de respirar
Desferir do sufoco
Soco sonoro no ar
Dos espaços calados
De algum ruído ecoar
Os lamentos guardados
Em ondas se propagar
Dos distantes porões
Todo som renascerá
Toda voz vai se ouvir
Quando o grito enfim chegar
(Eu ouço o apito agudo das usinas conclamando todos a sentarem comportadamente em seus teares. Eu ouço o ronco grave dos motores dos carros aguardando o verde dos sinais de trânsito. Eu ouço o martelar monótono das construções, uma viga, outra viga, um andar, outro andar. Eu ouço a rotina decorada de bons-dias e como-vais. Eu ouço toda essa estática da vida de uma antena mal sintonizada em um canal que não me diz nada. Nada! Mas ao longe eu ouço chegando, atravessando o asfalto das comodidades, um sussurro que se torna uivo e se transforma em grito, destelhando as casas e os tijolos das crenças, estilhaçando os vitrais das certezas, brindando outras belezas, erguendo palavras de desordem. Os medos que precisam ser escutados rasgando as peles, os poros, os ouvidos. Entrando em lugares santos, em salas de jantar, em condomínios fechados, em bairros nobres bagunçando todos os cantos e pornograficamente se fazendo ouvir. O grito vem feito um rolo compressor sobre os sentidos!).