Preconceito
Composição: Vino L..Ouvi um disparo no silêncio da noite
E pensei: Oh meu Deus, é mais um que se vai!
Aqui na favela não é brincadeira, seu moço
Cada tiro que é dado é um preto que cai.
Certamente acharão uma arma com ele
Pra justificar o sangue que se esvai
Pra que os homens de bem não sintam remorso
E possam dormir outras noites em paz.
Dizem que ela não poupa ninguém
Mas que preconceito a morte tem?
Você pode até se sentir diferente
Mas o sangue de preto é vermelho também
Dizem que ela não poupa ninguém
Mas que preconceito a morte tem?
Pra quem é preto e favelado, seu moço
Mais depressa a morte vem.
O lamento que canto não tem quem se importe
Ode de desespero e de indignação
Quanto mais cutucamos e abrimos o corte
Mais corpos de pretos se espalham no chão.
E eles dizem não existir preconceito, sem moço
E assim podem olhar em outra direção
E por mais que eu exorte, o anjo da morte
Vem como um ceifador colher a plantação.
“Um branco que corre é só alguém atrasado
Um preto correndo: “pega ladrão desgraçado!”
Pobreza que avança é o que ficou de herança
Um tiro na noite é mais um preto que dança
Mais um foi pro saco, rabecão, necrotério
Depois pro buraco no chão do cemitério
Senhores de engenho, carrascos traiçoeiros
Cabeça de preto é de quem mira primeiro”.