Descubra qual é a diferença entre grime e drill
Por: Hannah Baudson
Você sabe qual a diferença entre grime e drill? Os estilos musicais nasceram nos anos 2000 nas ruas da Inglaterra e Estados Unidos, respectivamente. Apesar de fazerem parte de uma mesma cena musical e contextos sociais semelhantes, eles possuem divergências estruturais.
Primeiro, os ritmos surgem em diferentes locais, porém ambos em contextos periferizados. Vamos começar pelo drill, nascido no sul de Chicago, EUA. O subgênero ganhou popularidade em meados dos anos 2010, impulsionado pela internet. Ele surgiu como uma nova modalidade do trap e entre os seus precursores podemos citar Chief Keef, Fredo Santana e Lil Durk, grandes responsáveis por espalhar o drill pelo mundo, possibilitando a criação de novas vertentes regionais, como o UK Drill no Reino Unido.
O grime, por sua vez, é filho das quebradas de Londres e da música eletrônica urbana. O estilo tem como artistas principais de sua história Dizzee Rascal, Skepta e Stormzy, nomes que influenciaram uma geração de músicos e produtores, sobretudo brasileiros.
Assim como alguns estilos popularizados de maneira informal como o rap, o brega funk e o reggaeton, com o grime e o drill não foi diferente. As estações de rádio piratas contribuíram para que o primeiro saísse dos guetos ingleses para o mundo, alcançando novos fãs e produtores. A internet também foi uma grande aliada dessa cena, visto que os artistas do segundo estilo produziam mixtapes e lançavam em plataformas gratuitas de música, como o YouTube, para consumo do público.
OK. Mas qual é a diferença entre grime e drill, de fato?
1. Diferenciando os estilos
Acima de tudo, suas origens distintas. O drill nasceu nos guetos dos Estados Unidos e o grime na Inglaterra. A chegada do UK Drill, por sua vez, ajudou na propagação do subgênero, incentivando a participação de mais países na cena, como Brasil, França e Espanha. Do trap surgiu o drill, marcado por uma atmosfera mais sombria e um estilo de beat “deslizado”, que possui entre 60-70 batidas por minuto (BPM). A própria palavra drill significa “ir à luta”, visto que as letras abordam aspectos combativos acerca da realidade vivida.
Por outro lado, o grime possui influências da música eletrônica britânica como o jungle, drum and bass, UK garage, dubstep e dancehall. Aqui as batidas são mais aceleradas, por volta de 140 BPM, “metálicas” e geralmente em oito compassos. A cadência do som é incisiva, as letras afiadas e os artistas buscam narrar as vivências das ruas.
2. O que é cantado no grime e no drill?
Apesar de beberem da cultura hip-hop, esses estilos também possuem semelhanças com o funk, principalmente, quando chegam ao Brasil e o tamborzão é de fato incorporado ao som. A sonoridade e as letras conversam entre si, trazendo como pautas centrais vivências periféricas e situações presenciadas pelos rappers e MCs, tais como a criminalidade, o uso de drogas, o anseio por melhores condições de vida, autoestima e até mesmo o futebol. As camisas de time são a vestimenta principal dos artistas e o esporte é assunto frequente nas músicas, levando, em alguns casos, o próprio nome das faixas.
Outro elemento marcante na composição do grime e do drill é a experimentação dos rappers, DJs e produtores, podendo ser interpretada como um movimento de vanguarda. Boa parte dos artistas são independentes e um de seus propósitos é inovar através do som, fugindo do que é imposto pela parte conservadora da indústria musical. Um exemplo disso pode ser visto aqui no Brasil através do canal carioca Brasil Grime Show, que convida artistas diversos para apresentações musicais nos “DJ sets” do Diniboy. O BGS reúne pessoas do meio do funk, do trap e do boom bap com um objetivo: fazer som a partir de batidas irreverentes e apresentar narrativas reais.
Na cena grime e drill o Brasil joga bonito
Agora que sabemos qual a diferença entre grime e drill, é possível conhecer seus protagonistas. Assim como aconteceu com o futebol que nasceu na Inglaterra e ganhou aqui no país o “jeitinho brasileiro”, o movimento de incorporar elementos de outra cultura para criar algo original também ocorreu com o grime e com o drill. Apesar de serem filhos do hip-hop, esses estilos têm muito em comum com o funk. É possível ver uma influência clara em muitas produções, a partir de elementos estéticos-visuais e sonoros. Sem falar das letras, que trazem — além de outros assuntos — ascensão social, curtição e libertinagem.
Do mesmo modo, outras misturas com ritmos nacionais são realizadas pelos artistas. Um dos expoentes do grime no país é o baiano Vandal, que criou pontes entre o nevoeiro londrino e o calor da Bahia em 2015, mesmo ano em que lançou sua mixtape “TIPOLAZVEGAZH”, que incorporou o pagodão baiano e o samba-reggae junto ao estilo.
Conforme o grime foi alcançando mais regiões do país, mais artistas foram se adaptando ao ritmo e criando novas possibilidades. É impossível não citar o EP “BRIME!”, dos rappers paulistanos Febem, Fleezus e do produtor Cesrv, que marcou um golaço para o Brasil na cena. O lançamento de 2019 representa a originalidade brasileira e ajudou a atrair olhares do mainstream para o estilo.
Atualmente, a cena BR segue movimentada, e conta com representantes de diferentes partes do Brasil, como os cariocas N.I.N.A, SD9, Leall e Big Bllakk, que adotaram o grime e o drill como estilos principais. Os mineiros Vhoor, FBC e Iza Sabino também não ficam para trás, incorporando os estilos em diversos trabalhos. Assim como as gêmeas paulistas Tasha e Tracie, que também passeiam com maestria pelos ritmos.
Jogo rápido: artistas independentes para conhecer
Apesar de já muito grande, o grime e o drill ainda são estilos recentes no Brasil. Existe uma cena musical em ascensão, fomentada por artistas de diferentes locais e culturas. Conheça alguns nomes da cena independente para você ficar de olho:
Minas Gerais
Diretamente de BH, Mirral ONE e Well são dois nomes que fomentam a cena mineira. “fml” é o lançamento mais recente dos artistas em conjunto e traz a essência grime em produção de georgeluqas.
“Em BH também tem drill”. É o que diz Brvgv em na música “Didier Drogba”, produzida por Vitor Akin:
Espírito Santo
Apesar do nome, Do Rio vem de Piúma, Espírito Santo. “Na Rua Mermo” é o seu trabalho que incorpora o drill:
Rio de Janeiro
“MEU MELHOR RAP DO ANO” é um drill. Coincidência? Marcão Baixada te explica melhor aqui:
Angola
Por fim, três artistas da cena grime e drill angolana para você conhecer e ouvir no Palco MP3 são Sandro Khalifa, Burraxas e Onelli Barras.
Então, se você gostou de saber qual a diferença entre grime e drill e curtiu os artistas apresentados, no Palco MP3 é possível encontrar outros nomes incríveis da cena independente para ouvir e baixar. E se você também escuta outras vertentes do rap, fique de olho em nossas playlists que tem muita música boa te esperando! Ah, compartilhe esse texto com alguém que se interesse em conhecer melhor os estilos.