De Goiás para o mundo: a trajetória de Marília Mendonça que deixa saudade
Por: Vanessa Perroni
Na tarde da última sexta-feira (5), o Brasil perdeu uma das artistas de maior representatividade para a música sertaneja nos últimos anos. Um acidente de avião no interior de Minas Gerais tirou de cena Marília Mendonça, a “Rainha da Sofrência”, aos 26 anos. Por isso, o Palco MP3, que tem uma história de carinho mútuo com a artista, relembra a trajetória de Marília Mendonça, essa gigante da música, como uma homenagem.
Uma trajetória de sucesso dentro do gênero sertanejo
Nascida em Cristianópolis, Goiás, em 22 de julho de 1995, Marília Mendonça começou a compor ainda muito jovem, aos 12 anos. Nessa época, escreveu a canção “Minha Herança”, gravada por João Neto e Frederico. Sempre colecionou composições que se tornaram sucesso na voz de artistas como Jorge e Matheus, Wesley Safadão, Henrique e Juliano.
Em 2015, aos 20 anos de idade, gravou seu primeiro DVD “Marília Mendonça – Ao Vivo em Goiânia”, que recebeu disco de diamante triplo e contém a música “Infiel”, um dos seus maiores sucessos, que se tornou a quinta canção mais executada nas rádios brasileiras naquele ano. Pouco depois, em 2016, lançou seu segundo DVD “Realidade”, contendo a música inédita “Eu Sei de Cor”, outro dos vários hits que viriam pela frente.
A princípio seu lançamento na mídia iniciou com o Palco MP3, mas antes disso ela já era usuária frequente da plataforma, inclusive, ganhou troféus do nosso Prêmio Palco MP3.
Em sua discografia também estão os discos “Agora é que são elas 2” (2018), “Patroas” (2020) e o mais recente “Patroas 35%” (2021). Logo, o talento inegável levou a artista a ser indicada ao Grammy Latino, em 2017, na categoria Melhor Álbum de Música Sertaneja. Porém, o troféu veio em 2019 pelo projeto “Em Todos Os Cantos”. Além disso, foi indicada, neste ano, para a 22ª edição da premiação, na mesma categoria, ao lado de Maiara & Maraísa por “Patroas”.
A carreira de Marília Mendonça registra números impressionantes, ela soma 324 músicas e 391 gravações, entre suas canções e de parceiros. Além disso, ela possui mais seguidores que os Beatles nas plataformas de streaming. Logo no início da pandemia, a cantora bateu o recorde mundial de espectadores simultâneos em uma de suas lives, atingindo 3,2 milhões de pessoas.
Parceria com artistas de outros gêneros musicais
Uma artista versátil, Marília Mendonça foi além do sertanejo e firmou parceria com grandes nomes de outros gêneros musicais. Sendo assim, gravou com Anitta, (“Some que ele vem atrás”), Ivete Sangalo (“O nosso amor venceu”), Léo Santana (“Incendeia” e “Apaixonadinha”), Péricles (“A mais disputada”) e Xamã (“Leão”).
Além desses artistas, ela fez parceria com uma das maiores intérpretes da MPB, a cantora Gal Costa, com quem gravou sua música “Cuidando de longe”. Além disso, a canção entrou para o álbum “A pele do futuro” (2018), de Gal. Recentemente, ela foi convidada por Luísa Sonza para participar do disco “Doce 22” (2021), emprestando sua voz para a faixa “Melhor sozinha”.
A trajetória de Marília Mendonça como a principal representante do “feminejo”
Em um universo, até então, predominantemente masculino, Marília Mendonça deu início a uma nova categoria no mercado do gênero sertanejo: o “feminejo”. Como resultado de sua ascensão, várias duplas e cantoras solo passaram a ter mais visibilidade, como Simone e Simaria, Maiara & Maraísa e Naiara Azevedo.
À princípio, a “sofrência” foi o ponto marcante das canções, com letras que falavam de relacionamentos mal-sucedidos. Além disso, cantaram com propriedade a capacidade de dar a volta por cima, e temas como o machismo. Sendo assim, promoveram o empoderamento feminino, colocando as mulheres como protagonistas das situações.
Um exemplo é a música “Supera”, que retrata um relacionamento abusivo e incentiva mulheres a saírem dessa situação. Porém, antes dessa geração, nomes como Roberta Miranda, Sula Miranda e as irmãs Galvão, já tinham trilhado um caminho que abriu espaço para essas novas vozes.
Trajetória de Marília Mendonça é inspiração para novas gerações
Além de levantar temas importantes em suas letras, Marília Mendonça era sensível a causas sociais e minorias. Logo 2017, realizou uma doação de R$ 100 mil reais para o Instituto São Vicente de Paulo, da cidade de Campina Grande, Paraíba, que possui atividades voltadas para idosos carentes. Na ocasião, ela anunciou a ajuda após o show realizado no município para um público de mais de 100 mil pessoas.
Recentemente, em abril de 2020, início da pandemia, sua live arrecadou mais de 225 toneladas de alimentos, destinados para um projeto nacional de combate a fome. Além disso, ela passou mensagens de incentivo para que as pessoas ficassem em casa.
Na crise do oxigênio, em Manaus (AM), artistas e personalidades se uniram para comprar cilindros de oxigênio, e juntamente a Whindersson Nunes, Marília mobilizou recursos para transportar as arrecadações.
Ainda durante a fase de rígidas restrições da pandemia, o que ocasionou o cancelamento de eventos e shows, Marília ficou cerca de quinze meses sem fazer apresentações, mas, mesmo assim, se recusou a demitir a equipe. Ao invés disso, vendeu seu jatinho particular para manter os salários em dia.
Definitivamente, a trajetória de Marília Mendonça, mostra uma mulher que inovou a indústria da música e ensinou outras mulheres a dizerem não aos padrões. Nesse sentido, ela levou representatividade para o universo sertanejo. Acima de tudo, foi uma pessoa empática, visto sua proximidade e carinho com os fãs que conquistou nos dez anos de carreira. Assim, seu legado é inquestionável e nunca será esquecido.
Marília, para sempre, em todos os cantos ?